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sábado, 12 de fevereiro de 2011
12 de fevereiro de 2011 | N° 16609
PAULO SANT’ANA
A cruz dos médicos
Peguemos o caso real desta médica que me escolheu para seu desabafo.
Os médicos não são os únicos fatores de desenvolvimento do serviço público de saúde, mas se constituem em pilastras fundamentais do sistema.
Esta médica que me ausculta por saber que sou interessado máximo na questão da saúde tem uma condição bem peculiar: ela é ginecologista e obstetra, estudou Medicina durante seis anos, depois passou mais três anos exercendo residência em hospitais, para então prestar concurso na prefeitura de Porto Alegre, onde exerce suas funções profissionais.
É um desses milhares de médicos que trabalham em troca de salários modestos, na sua maioria têm mais de um emprego, correm de um hospital ou de uma clínica para outra com a finalidade de auferir ganhos dignos, ainda que injustos na relação com a missão transcendental que desempenham.
A nossa médica em questão, que trabalha durante 30 horas por semana em nossa prefeitura, percebe sabem quantos reais por mês? Pois ela ganha R$ 1.400 mensais.
Esperou, depois de prestar concurso, três anos para ver seu nome publicado no Diário Oficial. E se entregou à dura luta do serviço público, no posto de saúde que lhe foi designado.
À espera, cá para nós, de uma migalha. Afinal, num esforço orçamentário, o prefeito José Fortunati está criando um plano de carreira para médicos que elevará o seu salário para R$ 1.795 mensais, com possibilidade de ascensão máxima de R$ 2 mil.
Ela é questionada todos os dias pelos pacientes que acorrem ao seu local de trabalho a respeito da falta de funcionários no posto onde exercita seu mister, como se ela tivesse culpa pela exiguidade do pessoal.
Enquanto ela avalia seus pacientes no posto, solicita os exames e faz os encaminhamentos necessários aos ambulatórios e hospitais de maior complexidade, vê, por exemplo, com piedade, que algumas de suas pacientes precisam esperar seis meses para realizar uma simples ecografia transvaginal que independe dos esforços dela.
Isto é muito triste, isto é lamentável, isto dói, punge e devora a qualquer um, muito mais a uma singela médica que se embarafusta num posto médico de saúde pública e se vê obrigada a se defrontar todos os dias com estas situações aflitivas.
Muitos medicamentos que ela se obriga a prescrever a suas pacientes não estão disponíveis na rede pública de distribuição. É outro calvário para as pacientes e para a consciência desta nossa médica.
Não se pode, portanto – e esse é o fulcro principal desta coluna –, culpar os médicos pelas mazelas do sistema de saúde, como alguns querem fazer, neste momento em que estão sendo propostas mudanças no atendimento.
Os médicos não têm culpa de nada. Eles são as últimas forças de amparo à população.
Eu acompanhei mentalmente os caminhos que percorre esta médica em sua missão.
E fiquei guardando um profundo respeito por ela e pela sua classe.
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