sábado, 19 de fevereiro de 2011



20 de fevereiro de 2011 | N° 16617
PAULO SANT’ANA


Culpa por sedentarismo

Eu me preocupo por ser sedentário. Onde quer que eu vá por distância de mais de 50 metros, uso o meu carro.

Além disso, não tenho bicicleta e não faço exercício de espécie alguma.

Evidentemente que, em face das propaladas vantagens e conveniências das caminhadas e das corridas, devo estar pagando algum tributo por esse sedentarismo, se é que não vou pagá-lo brutalmente mais tarde.

Talvez meu corpo não me cobre mais por esse meu marasmo atlético em razão de que no passado tive excelente desempenho em caminhadas longas e diárias, embora involuntário.

É que na semana passada estive me lembrando de que, quando tinha 20 anos de idade, trabalhei três anos de vendedor de Massas Adria.

E minhas tarefas consistiam no seguinte: eram-me designadas cinco zonas de atuação por semana, uma por cada dia útil.

E eu pegava os meus talões de pedidos e ia vender as massas por essas zonas de Porto Alegre.

Seguramente eu caminhava em torno de 30 quilômetros por dia vendendo massas. Eu só tirava pedidos nos bares, restaurantes, minimercados e hotéis. No dia seguinte, um caminhão das Massas Adria ia entregar os produtos que eu havia vendido.

Seguramente, caminhando 30 mil metros por dia, eu adquiri um preparo físico invejável, cujos frutos de saúde eu devo estar colhendo em toda a minha existência.

Da mesma forma, quando deixei de ser vendedor e fui trabalhar de caixeiro da feira livre, integrando o quarto grupo daquele tipo de serviço municipal concedido, ajudou o fato de eu ter de armar a nossa barraca de massas e biscoitos todos os dias às 5h, muitas vezes erguíamos nossa tenda nos sete bairros que atendíamos por semana quando o sol ainda não havia aparecido no horizonte.

Foi na feira livre que adquiri robusta compleição, antes eu era mirrado, magro, meu corpo tinha a configuração de um sete, braços e pernas estreitos.

Como eu carregava cavaletes e sobraçava tábuas tanto para erguer quanto para desmanchar a barraca, inclusive nos domingos, eu fui assim também involuntariamente praticando educação física, adquirindo tonicidade muscular e óssea.

Por isso, certamente é que, quando tinha 24 anos e fiz concurso para inspetor de polícia e acabei designado para Tapes, eu era um belo mancebo, modéstia à parte.

São recordações, reminiscências, que me afloraram justamente quando eu mais me culpo por não praticar exercícios físicos, caminhadas e corridas, há mais de 40 anos.

Só me exercitei quando fui obrigado à dura luta física de trabalhador braçal ou atlético.

Agora, que estou fazendo fisioterapia, é que noto que sou avesso a movimentos físicos repetitivos, que me chateiam, por isso não me entrego preguiçosamente à ginástica e aos outros atos aeróbicos.

E, assim como a vida me deu lucro ao corpo quando eu me exercitava no trabalho, há de me trazer prejuízos por esse condenável ócio atlético a que me entrego atualmente.

Preocupo-me como devem se preocupar todos os que me imitam.

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