domingo, 6 de fevereiro de 2011


ELIANE CANTANHÊDE

Meritocracia e apagão

BRASÍLIA - Por essas ironias da vida e da política, o apagão castigava 33 milhões de pessoas, num cálculo, ou 47 milhões, em outro, enquanto a presidente Dilma Rousseff fatiava justamente os riquíssimos cargos do setor elétrico.

Sete Estados foram atingidos, sem luz e sem água. Houve problemas de trânsito e de tráfego aéreo. Hospitais, delegacias e presídios acabaram prejudicados. Mas o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, dizia que o sistema é "robusto", um dos melhores do mundo, e que tudo não passou de "interrupção temporária de energia".

Conclui-se que apagão no governo dos outros é apagão mesmo, mas no nosso é falha técnica.

Para Dilma, porém, esse é um setor multiestratégico, fundamental para o desenvolvimento. E porque foi da Secretaria de Energia do Rio Grande do Sul e do Ministério das Minas e Energia que ela emergiu para a Casa Civil, para a campanha de 2010 e, finalmente, para a Presidência da República.

Apagões causam perdas, tumultos e mau humor, mas deixam Dilma particularmente irritada, pois mexem com seus brios e jogam sua imagem de boa gestora na penumbra. Ainda mais com Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves alardeando que são donos de Furnas.

Já que expressões e metáforas não têm mais dono, Dilma endureceu, bateu na mesa, jogou pesado, avisando que quem manda é ela. Matou a cobra e mostrou o pau: tirou Furnas de Cunha e de Alves e deu para José Sarney. Ficou tudo em família (em todos os sentidos).

Furnas tem investimentos de mais de R$ 1 bilhão. A Eletrobras, de mais de R$ 8 bilhões. Faz sentido que o grupo de Cunha e Alves dispute com o de Sarney e que Dilma desempate a favor de Sarney, que já controla o ministério com Lobão.

Que fique claro: é tudo para o bem de todos e a felicidade geral da nação. A disputa é de meritocracia e para evitar que ocorram novos apagões, ops!, interrupções temporárias de energia.

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