terça-feira, 15 de fevereiro de 2011



15 de fevereiro de 2011 | N° 16612
CLAUDIA TAJES | CLAUDIA TAJES (interina)


Os preços

A beleza é relativa, acredita-se, embora alguns exemplos teimem em desmentir o clichê, tanto para o bem quanto para o mal. Também o tempo, a confiança, o amor e a amizade entram nesta lista. Mas fora do terreno do impalpável, o que há de mais relativo na vida é o preço.

Logo o preço, que deveria ser a medida absoluta do que valem as coisas. Só que não é bem assim. O preço quase sempre é discutível, ainda que surja com base em cálculos dos mais complicados. Um preço sempre tem dois lados, cada qual com suas razões. Mas que é pior ficar na ala dos pagantes, é.

Passagem de ônibus. Para os donos das empresas, o preço de R$ 2,70 é um valor razoável. Isso porque eles não andam de ônibus. Para quem anda, R$ 2,70 é um preço para lá de alto e os centavos acumulados, no fim do mês, vão esculhambar com o orçamento.

Energia, telefone, água, cesta básica, remédios, dizem que tudo tem seu preço estabelecido para que a economia, como um todo, não saia do prumo. Já dentro de casa, haja treinamento no Cirque du Soleil para manter os pratinhos equilibrados.

Quando não está sujeito à fiscalização, aí o preço merece uma teoria da relatividade só para ele. Uma rede de estacionamentos da cidade considera que o preço de R$ 40 para deixar o carro por cinco horas e 50 minutos em qualquer das suas filiais é justo.

Já o empregado da garagem, que ganha salário mínimo e sofre o desconto de eventuais diferenças de caixa no seu contracheque, informa a facada para os clientes com visível constrangimento.

O preço do livro, para o livreiro, está ótimo. Para a grande maioria dos leitores, é caro demais. Tem jeans de etiquetas nacionais custando R$ 480, por causa do design, justifica o vendedor. E tem televisão em oferta por menos de R$ 200. Comparação estapafúrdia, é verdade, mas fica difícil entender como uma calça custa mais que uma TV, independentemente do papo de valor de marca e etc.

Outra: a diária de uma casa em um condomínio de luxo de Atlântida consegue passar de R$ 2 mil no Carnaval. Um pacote completo para Buenos Aires, no mesmo período, ainda que em hotel meia-boca, sai por R$ 1,7 mil.

Também existe a hora em que o preço não importa, a hora da compra por impulso, aquela que precisa ser disfarçada como um crime imperfeito, já que as evidências chegarão junto com a fatura do cartão de crédito.

Nesse caso, não há o que fazer, nem do que reclamar. É mais um preço que se paga por nascer humano. E considerando que a gente podia estar aqui na forma de uma barata, até que essa coisa toda está nos custando barato.

Moacyr Scliar, dono deste espaço nas terças-feiras, encontra-se hospitalizado.

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