quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011


ELIANE CANTANHÊDE

Um grande teatro

BRASÍLIA - O velho líder metalúrgico Vicentinho, ex-presidente da CUT e agora deputado do PT, foi vaiado pelos antigos companheiros sindicalistas ao ler o seu parecer defendendo o aumento do salário mínimo para R$ 545.

E o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, deputado do PDT, jogou a toalha já de manhã, reconhecendo a derrota dos R$ 560 antes mesmo do início da sessão.

A frase dele é emblemática: "Para ganhar, a gente teria de dormir 18 dias na praça". Uma referência óbvia à oposição do Egito que derrubou o ditador Hosni Mubarak com 18 dias na praça Tahrir.

A votação do salário mínimo, portanto, se transformou num grande teatro, com plenário cheio, galerias barulhentas, as centrais sindicais aliadas ao DEM e a parte do PSDB, e o próprio ministro do Trabalho em cima do muro.

Escrevo antes do resultado, por causa do fechamento e por pura falta de juízo, mas o tempo todo a expectativa foi de vitória do governo, ou seja, dos R$ 545. E o motivo é óbvio: dos 513 deputados, 388 são de partidos aliados ao Planalto.

Com 100% de presença, bastavam 257 a favor, porque o quorum de votação de projetos de lei é metade mais um dos presentes. O governo, portanto, tinha uma margem folgada de 131 votos.

Com Dilma recém-empossada, na chamada fase de "lua de mel", e sem consenso na oposição, era considerado muito improvável que uma súbita onda arrastasse todos os oposicionistas e mais 131 votos.

A discussão, assim, ficou em torno não de ganhar ou perder e sim de dois interesses políticos marqueteiros: o governo vendendo dificuldade para comprar uma votação expressiva, e a oposição testando forças internamente, entre os grupos de Serra e Aécio, entre fazer oposição ativa ou praticar bom-mocismo com prefeitos e mercado.

Resultado: governo é governo. E estão faltando talento e estratégia para fazer real oposição.

elianec@uol.com.br

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