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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
09 de fevereiro de 2011 | N° 16606
JOSÉ PEDRO GOULART
Biutiful
O primeiro dos muitos méritos de Biutiful é ser falado em espanhol. O mexicano Alejandro González Iñárritu, vindo do múltiplo linguístico Babel, sabe que a língua é uma barreira comercial, mas também é uma peça de resistência. O próprio título é uma síntese disso, escrito de maneira que se contradiga ao que significa e como é compreendido. O mundo é biutiful? Sim e não. O quanto da influência americana diz respeito a esse sim e não?
Com suas quase três horas de duração, narrativa lenta, realização singular, Biutiful é um intruso nesse mundo cada vez mais virtual, cuja autoria coletiva e passageira determina uma espécie de pressa (desespero?) rumo ao grande vazio.
Há cada vez menos interesse por filmes assim, tirasse o Javier Bardem e talvez nem fosse exibido nos cinemas; de modo que todas essas dificuldades comerciais, a questão da língua, do título, de alguma forma tudo isso está contido nas linhas e entrelinhas do filme – “existimos, a que será que se destina?”.
Há tempo que um filme não me invadia tanto. A ponto de no final, ao sair do cinema, sentir minhas pernas fraquejarem. E olha que Biutiful tem os dois pés atolados no lodo da paranormalidade (ou no barro da espiritualidade, sei lá).
Biutiful se passa em Barcelona, mas poderia ser em São Paulo, na periferia da Cidade do México. A glamourosa Barcelona de Woody Allen está mais para Ciudad del Este, no Paraguai. A desintegração da cidade e a falência física de Uxbal (Bardem) caminham juntas numa fatalidade previsível.
Uxbal não deveria temer a morte – ele que vê além dela –, porém teme deixar os filhos sós. Como vai ser a vida deles na ausência de alguém que os proteja? E além disso, Uxbal acredita que se morrer “precisando” ficar, não poderá “subir” em paz.
Impossível deixar de ver uma metáfora cristã no dilema do personagem e seu périplo de sofrimento na tentativa de encontrar uma saída. Apesar da dor, Uxbal é solidário com os outros. Metáfora da metáfora, por sinal. Ou não é a história de Cristo uma metáfora?
De maneira que o risco tomado por Iñárritu foi grande, do tamanho da sua ambição. O cinismo e o deboche são ferramentas muito mais seguras no momento.
Eis o meu ponto: você não precisa compartilhar da fé do sujeito para estabelecer sentido. Os extremos de dor, compaixão e poesia localizados em Biutiful tiveram o efeito de derrubar os pilares das minhas razões, minhas certezas, meus encadeamentos abstratos, que de hábito me sustentam. Se não é para isso que os filmes são feitos, então prefiro o futebol.
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