terça-feira, 22 de fevereiro de 2011



22 de fevereiro de 2011 | N° 16619
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Como eram os domingos

Essa história de que os domingos de ontem eram parecidos com os de hoje não é bem assim. Havia muitas diferenças, e nem sei te dizer se para pior ou para melhor.

Para princípio de conversa, o dia começava, nas famílias de classe média remediada, com um ritual obrigatório: a missa, acompanhada de confissão, comunhão e jejum absoluto. Depois servia-se o almoço, que no geral se compunha de um cardápio em que não costumavam faltar a salada de batatas, a massa e a galinha assada.

E aí estendia-se, risonha e franca, a tarde. Era um programa de múltipla escolha. Você podia eleger as matinês daquela multidão de cinemas espalhados pelo Centro – da Rua 7 de Setembro à Avenida Borges de Medeiros.

Desejava ver um filme romântico? As opções eram muitas, dos dramas sentimentais do Imperial, do Guarani ou do Victoria, à atmosfera europeia do Ópera ou do Cacique. Preferia um policial ou um suspense? Era simples: bastava inclinar-se pelo Capitólio ou pelo Continente. E havia ainda a livre opção, já fora do Centro, pelo Marabá, o Avenida, o Ipiranga, o Colombo, o Orfeu e mais uma dezena de salas espalhadas pelos bairros.

Mas se a tua inclinação não fosse a chamada Sétima Arte, sobrava o apelidado Esporte Bretão. Ainda peguei em grande forma o Estádio dos Eucaliptos e nele vi jogar Tesourinha.

A cidade tinha sete times disputando o campeonato local: Internacional, Grêmio, Cruzeiro, Renner, Nacional, São José e Força e Luz. Fui apresentado a eles num embate entre Inter e São José, gloriosamente vencido pelo primeiro, numa goleada memorável. Também gloriosa foi a inauguração do Beira-Rio, que conheci ainda em seus alicerces.

Hoje já não existem cinemas, desses com bilheterias abertas para as calçadas. O Estádio dos Eucaliptos, segundo me informam, será transformado num shopping. Mas restará o Beira-Rio, renovado e pronto para uma Copa do Mundo.

E restarão minhas lembranças de um tempo em que eu segurava ternamente as mãos de minha amada nas matinês do Cine-Teatro Imperial.

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