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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
03 de fevereiro de 2011 | N° 16600
ARTIGOS
Educação e sociedade, por Maria Cláudia Barros*
Sou professora de História e vice-diretora de escola pública. Todos estão preocupados com educação. Juristas, engenheiros, jornalistas e até economistas querem escrever sobre educação baseados em “estudos e estatísticas”.
Agora, a sociedade e a mídia estão unidas em achar um “culpado” para o péssimo desempenho de nossos alunos, comparado com outros países. A figura do professor se torna alvo de análises variadas. O referencial vai desde a acomodação e vitimização até a tradicional valorização saudosista da profissão. Todos estão percebendo aquilo que há anos tentamos mostrar: o bom funcionamento da escola garante o desenvolvimento tecnológico e econômico do país.
A iniciativa privada da comunicação virtual, da robótica e da descentralização produtiva depara com uma multidão de “auxiliares de escritório” para contratar. Estagiários e funcionários que devem aprender tudo. Relações pessoais e utilização da tecnologia para solução de problemas passam a ser um desafio diário.
É uma sociedade em transformação sobre suas necessidades produtivas e que hoje necessita de uma escola interligada com as formas de comunicação digital, conectada também com projetos científicos e ambientes que na prática estimulem a produção de conhecimento.
Gustavo Ioschpe, na revista Veja desta semana, afirma que “em termos de administração financeira aumentar o salário de professores é desperdício”. Sim, não é só o salário de professor que garante um melhor resultado da educação, mas, sim, um grande investimento em toda a estrutura que planeja e organiza o sistema de ensino deste país.
O salário do professor poderia ser o início dessa mudança, pois mestrados e doutorados não dependem somente da vontade. Acesso à cultura e instrumentos pedagógicos interligados com novas tecnologias também custam dinheiro. Quando isso já é o básico para outras categorias sociais, o diálogo fica difícil.
E as análises menores centradas no professor são um prato cheio para uma sociedade cansada de receber o mínimo diante de tanto recurso perdido em burocracias e muito pouco investido de forma séria e criteriosa. Estamos cansados, sim. Hoje somos socialmente culpados pelo mau aproveitamento dos alunos que formamos para o mercado de trabalho. E assim entendemos por que a opinião de um economista se torna tão urgente sobre educação nesse contexto.
Não somos vítimas, mas frutos de uma lógica de prioridades. Assumimos a cada dia o tipo de sociedade que construí-mos encarando todas as carências e necessidades básicas que uma sociedade nos apresenta nos três turnos do dia. Poucas empresas privadas dariam tanto resultado com tão pouco investimento. Não vamos decretar falência, continuamos realizando nosso trabalho mesmo sem respostas para carências básicas de funcionamento.
Qual o papel da sociedade então? E os “pensadores em educação” continuam na mídia apreensivos com o limite a que chegamos: ou abrimos mão de recursos transferidos para a realidade das escolas ou continuaremos a receber um bando de “auxiliares de escritório” de nível médio, quando conseguem chegar lá.
A escola pública e seus resultados refletem a sociedade e sua administração também reflete as prioridades do município ou Estado no qual está inserida.
As secretarias de Educação se apresentam como unidades administrativas muito distantes da realidade das escolas. Poucas pessoas estão comprometidas a resolver problemas estruturais de falta de funcionários na limpeza, secretaria e demais setores. Recursos, planejamento e investimentos estão relacionados à escola que a sociedade precisa.
*Vice-diretora e professora de História
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