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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
18 de fevereiro de 2011 | N° 16615
DAVID COIMBRA
Por que Dilma e Fortunati governam bem
Vou dizer agora qual é a razão para o Fortunati estar fazendo uma boa administração em Porto Alegre.
Porque é uma boa administração.
Provam-no obras sarapintadas pela cidade e, sobretudo, prova-o esse instituto de saúde criado pela prefeitura dias atrás. Não apenas pelo instituto em si, aliás uma ideia inteligente, e mais devido à forma como foi proposto, levado adiante e aprovado.
Trata-se de um projeto polêmico, os médicos eram contra, promoveram manifestações e tudo o mais. Fortunati poderia ter se assustado com a reação e adiado a implantação para as calendas gregas.
Ou poderia ter tentado buscar o consenso impossível. Ou poderia atirar a decisão para o alto, posar de democrata para iludir a massa ignara e esconder-se atrás de um plebiscito, como foi feito com o caso do Pontal do Estaleiro Só.
Mas não.
Fortunati tinha convicção e teve determinação. Achava que devia fazer, foi lá e fez. Assumiu a responsabilidade.
É o que se espera de um administrador.
O administrador não pode deixar de agir por medo da crítica. Até porque a crítica é inevitável, principalmente no Rio Grande do Sul. O gaúcho, não é que o gaúcho tenha senso crítico desenvolvido.
Não. Em dois séculos de isolamento meridional, o gaúcho desenvolveu a habilidade de ver os pontos negativos em qualquer iniciativa e em qualquer pessoa que toma a iniciativa. Logo, quem faz sempre será criticado por aqui. Logo, a crítica deve ser subestimada. A crítica de quem está sempre criticando tem tanto valor quanto o elogio de quem está sempre elogiando: nenhum.
E a razão do desempenho seguro de Fortunati na prefeitura está sedimentada, precisamente, na crítica. Ou na falta de. Fortunati não teme a crítica, como temia Fogaça, porque Fortunati estava a salvo dela: ele era vice, pouco aparecia, não havia por que criticá-lo. Alçado ao cargo de prefeito, pôde agir com independência. Pegou os maliciosos de surpresa. Eles não estavam reparando nele.
Dilma é beneficiada por fenômeno semelhante. Ela pode tomar as medidas corretas para bem gerir o país porque não tem, como tem Lula, a pretensão de ser uma liderança popular, venerada pelo povo.
Lula precisava ser populista. Afinal, era olhado com desconfiança quando galgou o poder. Para se fortalecer, fez um governo de concessões, de apadrinhamentos e de generosidades.
Inchou o quadro do funcionalismo público, atendeu a interesses da velha oligarquia, gastou à grande. Dilma vai ter que corrigir as distorções. Ela pode fazer isso. Porque, como Fortunati, emergiu das sombras e sabe que só será banhada pela luz se fizer uma administração competente.
Dilma e Fortunati, sustentados por um sólido regime democrático, estão, pelo menos por enquanto, protegidos das deformidades da democracia.
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