quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011



24 de fevereiro de 2011 | N° 16621
PAULO SANT’ANA


O que fazer da vida?

Um conhecido meu me pegou pelo braço e me deu conta de sua decisão: “Informo-te que estou largando tudo, tudo mesmo, e estou largando também a vida”.

E eu disse a ele: “Não te incomoda largando todas as outras coisas: simplifica e larga só a vida”.

Eu, como os filósofos, os sacerdotes e os curiosos em geral, me ocupo em decifrar a vida.

Às vezes, quase que me dou por vencido. São tantos os mistérios da vida, que não consigo perscrutar a maioria deles.

Mas outras vezes me encorajo, como quando recebi de uma pessoa uma mensagem cheia de esplendor teológico.

Alcançaram-me a mensagem ontem aqui no jornal.

O resumo da mensagem: “As misericórdias de Deus são as causas de não sermos consumidos”.

Eu me sinto muitas vezes assim: noto no meu dia a dia a proteção de Deus, da Virgem Santíssima. Parece-me nitidamente que sem essa assistência eu não poderia levar à frente a minha existência, tantos são os fatores que abalam minha resistência física.

E dali a pouco, como por um milagre, eu passo por mais aquele obstáculo. E por mais outro. Assim eu vou levando. Passam-se os anos e os meus autovaticínios pessimistas não se confirmam.

Só pode ser a mão de Deus. Algo me diz que ele está cuidando de mim, que ele não está se descuidando de mim e está me levando, mesmo aos trancos e barrancos, para a frente nos meus caminhos.

Eu preciso firmar na minha mente que Deus é bom e é justo. E, sendo justo Deus, ele está a meu lado, aproveitando essa vigília para manter-me erguido até a hora que soar a minha morte. Mas, antes disso, ele está me proporcionando alguns momentos estupendos da vida, aqueles instantes em que noto que cada vez mais eu raciocino melhor e mais visível se torna a minha capacidade de saborear a vida na sua mais profunda e significativa essência, que é o meu relacionamento com as outras pessoas.

Tanto que muitas vezes concluo que o inferno não são os outros. Pelo contrário, eu estou sabendo fazer dos outros meus agentes na busca e encontro de uma existência deliciosa.

A única coisa que me consola quando me defronto com grande dificuldade é que olho atentamente ao meu redor e vejo que outras pessoas sofrem igualmente a mim com dificuldades iguais ou congêneres.

Nunca se deve pensar que só conosco acontecem pequenas ou enormes catástrofes existenciais.

Consola-nos muito saber que todas as pessoas são suscetíveis de grandes problemas afins aos nossos.

A vida por si só também é um grande problema.

Trocar de amor é tão difícil e intrincado quanto trocar o pneu.

Da última vez que troquei de amor, fiquei todo engraxado.

E, quando se troca de amor, fica-se sempre num grande dilema: o que fazer agora com o pneu avariado?

O pneu bom foi colocado no carro, mas se deve agora continuar usando o ex-amor como estepe?

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