segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011



14 de fevereiro de 2011 | N° 16611
L. F. VERISSIMO


Outros Brasis, outras Franças

Pensamentos soltos, esperando para ver o Brasil x França, na ultima quarta.

Guadalajara, 1986. O calor, o calor. Eu com crachá da “Playboy” tendo que explicar para todo o mundo que não, não estava lá para escrever sobre o sexo no futebol. Os fantásticos restaurantes de Guadalajara. As catastróficas dores de barriga de Guadalajara.

O garoto na porta do hotel, tão maravilhado com a presença dos brasileiros que não se conteve e deu um peso pro Divino Fonseca, repórter da “Placar”, e saiu correndo. O magnífico mural do Orozco na prefeitura da cidade, que acho que só eu vi.

E o fatídico Brasil x França, que perdemos nos pênaltis, talvez o melhor jogo ao vivo da minha vida (a vitória do Inter no Japão eu vi na TV). O Brasil com Sócrates, Zico, Falcão. Uma grande geração, mas uma geração no ocaso. A França de Tigana e Platini. O enorme Platini, dono do jogo. Precursor do Zidane na linhagem de franceses nocivos ao Brasil.

Paris, 1998. Stade de France. O susto quando, minutos antes do jogo, distribuíram aos jornalistas as escalações dos dois times. Cadê o Ronaldo?! Depois se soube: Ronaldo tinha tido um troço na concentração. A natureza do troço ninguém disse, e não se sabe até hoje. Mas Ronaldo acabou jogando. Não pelo Brasil, mas por uma desconhecida nação de zumbis de olhos parados.

Enquanto isto, o Zidane fazia dois dos raríssimos gols de cabeça da sua carreira. Depois do jogo tive dificuldade em ajeitar meu lepitope entre os pés de um gigantesco francês que fotografava a entrega da Copa de cima da minha mesa. Por pouco meus dedos não foram outras baixas do jogo. A volta para o hotel, junto com o Dinho Eichenberg, foi melancólica. Os franceses faziam carnaval na rua. Só tínhamos um consolo: carnaval a gente faz melhor do que eles.

Alemanha, 2006. O Zidane, que já tinha nos matado a cabeçadas, decidiu que faria o melhor jogo da sua vida contra nós. Quer dizer, já era perseguição. Acho que nunca vi – depois da era Pelé – uma atuação individual como a do Zidane naquele jogo.

Depois, na final contra a Itália, ele daria outra rara cabeçada, desta vez no peito de um italiano, e seria expulso, talvez decretando a derrota do seu time. Pareceu uma forma de suicídio. Como se ele dissesse “minha legenda está feita, nunca mais vou jogar como joguei contra o Brasil, saio do campo para entrar no chuveiro e na História”.

E agora, outro Brasil e outra França. Vai ser um bom jogo. Pelo menos emocionante, já que evocará tantas memórias. Vai ser um... Mas peraí, o jogo já terminou? Eu devo ter dormido!

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