sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011



18 de fevereiro de 2011 | N° 16615
PAULO SANT’ANA


Como é que é?

Encontrei um amigo que não via há 12 anos. Depois das saudações costumeiras, eu perguntei a ele:

– E aí, companheiro, afinal deixaste de ser solteiro?

– Já faz três anos, me casei, finalmente.

– E com quem casaste?

– Com o Eliseu, um cara sensacional.

– Como é que é?

– Casei com o Eliseu. Por que estranhas?

– Sabe como é, eu sou de um tempo em que os homens se casavam com as mulheres. Mas não leva a mal, eu é que ando ultrapassado.

– Andas mesmo, Sant’Ana, vou te explicar que existem agora três tipos de casamentos: de homem com mulher, de mulher com mulher, de homem com homem.

– Que bela democracia!

– E devo te dizer que sou muito feliz com o Eliseu.

E foi-se embora o meu amigo, o único para quem não perguntei, depois de me participar seu casamento, se já tinha filhos.

Eu estava no restaurante conversando com minha amiga, uma pessoa muito simpática, culta e inteligente.

De repente, ela me disse: “Tu nem sabes, estou loucamente apaixonada”.

Evidentemente que fui acionado por aquela curiosidade natural e perguntei-lhe por quem estava ela apaixonada.

Ela respondeu rápido: “Por uma mulher”.

E eu : “Como é que é?”.

Ela também se declarou surpreendida consigo própria. Disse-me que nunca tivera qualquer inclinação homossexual, mas que tinha se envolvido com uma mulher e de repente constatou que estava irremediavelmente apaixonada.

Então eu perguntei o que ela via na sua namorada. E ela respondeu de pronto: “O cheiro”.

E eu: “Como é que é?”.

Explicou-me com detalhes: o cheiro, nas pessoas como nos animais, é uma marca individual. Disse que o olfato é responsável por uma série infindável de tentações e de união entre duas pessoas.

E disse que aquele cheiro que encontrou na sua amada nunca antes havia encontrado em ninguém, que se embriagava com o cheiro de sua mulher, inebriante.

“Perfume?”, perguntei eu.

Ela me disse que não, sua amada não usa perfume. É cheiro da pele mesmo, inimitável, cheiro de essências hedônicas transmitidas pelos antepassados, “cheiro de fato, cheiro da raça”, como diz um samba célebre.

Esses dois fatos absolutamente verídicos que contei, não sei se os leitores perceberam, tratam de um tema muito preferido: a liberdade.

A liberdade de amar, sem convenções, sem limites, sem estupefações.

Meu amigo e minha amiga, cada um a seu modo, estão amando.

E isso, como amigo deles, é a única coisa que me importa.

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