sábado, 12 de fevereiro de 2011



13 de fevereiro de 2011 | N° 16610
PAULO SANT’ANA


O purgatório da Saúde

Eu fiquei profundamente comovido com a exposição que fiz ontem do caso da médica obstetra e ginecologista que trabalha na prefeitura.

É que se descarregam sobre os médicos todas as agruras da prestação de serviço médico gratuito em Porto Alegre e, com certeza, no Estado.

Ninguém melhor que aquela médica para me prestar depoimento das mazelas do atendimento de saúde.

É muito duro, para qualquer pessoa socialmente consciente, saber que um paciente do SUS vê decorrerem seis meses para conseguir fazer uma ecografia ou outro qualquer exame radiológico.

São 180 dias de espera angustiante, espera apenas por uma etapa do seu atendimento pessoal de saúde. Depois vêm as outras etapas, tão ou mais demoradas do que essa.

Eu não posso entender como sucessivos governos não se comovem com o nosso problema de saúde, não posso entender...

Eu, às vezes, chego a pensar loucamente que a saúde de um ser humano é mais importante que sua alimentação.

Como é, então, que não são designadas verbas mais robustas para a Saúde?

Como é que se sucedem os governos e se alastram mais ainda as aflições dos pacientes?

E a gente assiste a tantas dotações orçamentárias, dinheiro grosso sendo destinado a problemas muito menos urgentes e transcendentais que o da Saúde!

Não haver leitos nos hospitais e daí decorrer uma maior dramaticidade nas emergências é um calvário a que se submetem os pacientes que não consegue passar pelo meu equipamento cognitivo.

Eu não consigo conviver com a realidade de milhares de pacientes esperando meses por um exame, por uma consulta, depois anos por uma cirurgia.

Isso é um dos maiores crimes sociais que cometemos em todos os tempos.

E por que isso prossegue? E por que isso se alastra? E como é que respeitáveis governos são erigidos, décadas sobre décadas, e não se resolve a questão da Saúde?

Sei que a Saúde é questão complicada de gerência até em países desenvolvidos.

Mas, aqui no Brasil, a coisa é mais séria: falta até, terrivelmente, o atendimento de urgência.

E é sobre as urgências e sobre as emergências que acabam desembocando essas longas e torturantes esperas por consultas e cirurgias.

E, no meio de tudo isso, me assalta o assombro de conhecer o grande drama que sofrem os médicos, enfermeiras, atendentes em geral dos hospitais e dos postos de saúde.

Como eles sofrem vendo todos os dias os seus semelhantes, os seus pacientes sofrendo!

Quando é que este purgatório com cara de inferno vai acabar?

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