sábado, 26 de fevereiro de 2011



27 de fevereiro de 2011 | N° 16624
VERISSIMO


O príncipe das águas

Duas histórias de amores de verão

Dizem que amor de verão nunca dura mais do que o bronzeado, mas no caso deles seria diferente. Doris e Douglas tinham se conhecido na praia e no fim das férias ela já estava segurando as coisas dele quando ele entrava no mar para surfar e não há prova maior de amor eterno do que isto.

Doris ficava na beira do mar vendo o Douglas surfar, abraçada à sua japona, à sua bermuda e às suas Havaianas e pensando ele é um Deus, ele é um príncipe das águas.

Tinham se amado tanto que nem sobrara tempo para se conhecerem. Não sabiam nada um do outro. Era como se a vida dos dois tivesse começado ali, naquela praia. Sem passado, sem biografias, sem confidências (gostas de novela?), sem nada. Apenas se adoravam.

Ela precisou voltar para a cidade antes dele, seu curso (Direito, como o pai) já ia começar, mas combinaram de se telefonar todos os dias. Mas passou o tempo e ele não telefonou, e quando ela ligava para o celular dele dava caixa de mensagens, e ele não respondia as suas mensagens.

Até que ela desistiu, e passaram-se meses. E um dia pediram pizza na casa dela (meia calabresa, meia primavera, não que isto importe) ela abriu a porta – e era ele! O entregador de pizzas era o Douglas. O príncipe das águas.

– Douglas! – Dóris! – Você, você...

Dizer o quê? Você não passa de um entregador de pizzas? E ele, diria o quê? Qual é o problema, entregar pizzas é uma profissão digna como qualquer outra. Ou: eu entrego pizza como bico enquanto termino o meu curso de física nuclear.

Ou: sou o dono da pizzaria, o nosso movimento é tão grande que hoje faltou entregador, você não imagina o que nós faturamos por mês, além de bonito eu sou rico, quer casar comigo. Ou: na praia era um disfarce, ou isto é um disfarce. Você escolhe.

Mas só o que ele disse foi: – Pois é... – Por que você não telefonou? – É que, sabe cumé...

Ela pagou pela pizza, agradeceu e, quando pensou em perguntar “no verão que vem, a gente se vê?”, ele já tinha entrado no elevador e desaparecido. Como quem desaparece numa onda, para nunca mais.

BRUCE

Outra história de amor de verão parecida começou com uma mentira. Quando ele perguntou para ela qual era seu nome, ela respondeu:

– Stefani.

Ele por pouco não desistiu. Puxa, Stefani. Não sabia se tinha condições para ficar com uma Stefani. Aquele corpo, aqueles cabelos loiros escorridos, aquela boca – e Stefani! Ele se chamava Felipe. Um simples Felipe. Suas pretensões eram de Felipe, seus limites eram os de um Felipe.

Tinha medo de que, depois do primeiro beijo, ela sorrisse um sorriso de Stefani e seus olhos dissessem “vá se catar, garoto”, e ela saísse à procura de alguém que a merecesse, que certamente não seria um mero Felipe. O mundo das Stefanis não é para qualquer um. Há eunucos armados guardando o portão do mundo das Stefanis para proibir a entrada de felipes e similares.

– E o seu? – O quê?

– Como é o seu nome? – Ah, é... Bruce. – Bruce?

Bruce. Um Bruce poderia beijar uma Stefani sem medo. Sem risco de um “vá se catar”. Um Bruce transitaria pelo mundo das Stefanis com naturalidade, como um frequentador assíduo. Um Bruce...

– Na verdade – disse ela – meu nome é Maria Helena.

– Você mentiu! – É. Desculpe.

Beijaram-se. Ficaram. Namoraram até o fim das férias. O único problema para o Felipe foi manter o Bruce. Adotar um comportamento de Bruce. Ser um Bruce, sem que a Maria Helena desconfiasse que ele também mentira.

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