Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
22 de novembro de 2010 | N° 16527
L. F. VERISSIMO
Salvos
Arainha Elizabeth acordou num sobressalto. Havia alguém no seu quarto! Acendeu a luz e viu que era o príncipe Philip.
– Philip! O que você faz aqui? Há 30 anos que você não vem ao meu quarto!
– Calma, Beth. Não consegui dormir, pensando no casamento do William, nosso neto. Essa Kate... Não será uma nova Diana, que vem infernizar nossas vidas?
– Philip, como sempre você não entendeu nada. Esse casamento é a melhor coisa que poderia ter nos acontecido. Para começar, reforça a ideia que o William seja meu herdeiro, o que pouparia o Reino Unido de ter o Charles como rei e aquela Camila como rainha.
Você sabe que eu só não morri ainda para evitar que isso aconteça. Em segundo lugar, o casamento estimulará a economia, atrairá turistas e, o mais importante, salvará a monarquia.
Eu sei que você só lê o noticiário do turfe, mas deve ter ouvido falar que estamos numa recessão, e que o novo governo está impondo medidas drásticas de contenção de despesas. Não demoraria muito e aumentaria a discussão sobre os custos da monarquia. Cedo ou tarde alguém perguntaria se os cortes nos gastos sociais não deveriam incluir o que você gasta com conhaque, Philip.
A movimentação em torno do casamento e o entusiasmo das pessoas com o casal acabará com essa discussão. A Kate é um pouco magrinha demais para o meu gosto, mas é ela que garantirá nossa mesada por mais alguns anos.
– Você acha? – Acho, Philip. Agora volte para o seu quarto. O fascínio
As monarquias sobrevivem do seu fascínio, mesmo quando só fornecem uma teatralização do poder. O fascínio aumenta quando o teatro envolve um jovem príncipe e uma bela moça, mas até um rei sem graça pode contar com a benevolência dos plebeus. Todo mundo gostou quando, naquele recente encontro de países ibero-descendentes, o rei Juan Carlos da Espanha mandou o Hugo Chávez calar a boca.
O Hugo Chávez precisa que o mandem calar-se de vez em quando, mas ninguém se perguntou o que um rei fazia numa reunião em que a maioria era de repúblicas nascidas de rebeliões contra reis.
Ele não estava representando a Espanha, o primeiro ministro Zapatero fazia isso. Talvez representasse a dinastia dos Bourbons. E quem sabe um pouco de história sabe que os Bourbons têm um prontuário de crimes que vem de longe, inclusive na América Latina.
O Juan Carlos é simpático, foi importante na redemocratização da Espanha e não pode ser cobrado pela sua ascendência, mas poderiam ao menos ter cobrado sua presença anacrônica na reunião. Ou não. Afinal, ninguém espera que se vá evocar o passado também manchado da Casa de Windsor ao comentar o casamento de William e Kate. O fascínio absolve tudo.
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