terça-feira, 23 de novembro de 2010



23 de novembro de 2010 | N° 16528
PAULO SANT’ANA


Morte e escândalo

Morreu, sábado passado, Alfredo Oliveira, o Carioca, ex-dirigente do Grêmio. Ele era um homem munido de permanente bom humor.

Tinha um espírito aguçadíssimo e animava as rodas de que participava na cidade e em torno do futebol com um humorismo talentosíssimo.

Em 1983, quando Fábio Koff era o presidente do Grêmio, surgiu de repente um movimento oposicionista forte no clube, que mandou pichar nas paredes e nos muros a inscrição Fora, Koff.

O Carioca, vendo que o Grêmio ganhara em seguida a Libertadores daquele ano, mandou acrescentar as seguintes palavras às inscrições dos muros: Fora, Koff, vai para Tóquio.

Alfredo Oliveira era assim, um artista da piada.

Mancha-se de sujeira o campeonato nacional. Em São Paulo, no fim de semana, a torcida do São Paulo, incrivelmente, vibrava com euforia nas arquibancadas a cada gol que o Fluminense marcava contra seu time. Incrível.

Tudo porque a vitória do Fluminense prejudicava decisivamente o Corinthians, tradicional rival local do São Paulo.

Dentro do campo, a imundície moral se espalhava ainda mais: dois jogadores do São Paulo provocaram acintosamente as suas expulsões.

Ou seja, o São Paulo perdeu de propósito para o Fluminense para ralar o Corinthians.

Além disso, o treinador Ricardo Gomes, que até pouco tempo treinava o São Paulo e é afetivamente ligado ao tricolor paulista, declarava que o São Paulo tinha de ir à bala contra o Corinthians e tinha de perder de propósito para o Fluminense, um escândalo.

Aqui entre nós, o Internacional escalou um time totalmente reserva contra o Botafogo, com o visível intuito de não favorecer o Grêmio, uma vitória colorada contra o alvinegro carioca deixaria o Grêmio no G-4.

Lógico que é impossível pedir aos jogadores que eles percam, por isso o time reserva do Internacional reuniu forças e venceu o Botafogo.

Ou seja, o Internacional escalou para perder e jogou para ganhar. O tiro saiu pela culatra.

Há que se mudar urgente a fórmula do campeonato para o ano que vem. Na série B, os escândalos estão se sucedendo no mesmo estilo.

Inverte-se, assim, a lógica de essência primacial de uma disputa: dirigentes e jogadores modificam o ideal de vencer e o substituem pela intenção de perder, o que apatifa completamente a competição e desde já deslegitima o seu vencedor, conhecendo-se esses escandalosos e viciados atos distorsivos.

Isso tudo acontece de súbito, mal o campeonato enveredou para sua decisão. Ou seja, justamente no instante em que todos tinham o dever de jogar para ganhar, alguns estão jogando ingloriamente para perder.

A desculpa de que no ano passado e em outros anos anteriores aconteceu o mesmo é mais agravante ainda: a sujeira acontece todos os anos. Há que se pôr um paradeiro nela.

A mudança da fórmula é imperiosa. A parte final e decisiva do campeonato tem de ser modificada por nova fórmula, de modo que todos se dediquem à vitória e não se permita que, fantasticamente, os times joguem para perder, com a finalidade de perfídias locais animadas pela rivalidade.

Não pode continuar assim, o campeonato está manchado por esses escândalos. O Clube dos 13 tem a obrigação de modificar esta fórmula, o mesmo com a CBF.

É uma vergonha.

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