terça-feira, 30 de novembro de 2010



30 de novembro de 2010 | N° 16535
PAULO SANT’ANA


O helicóptero blindado

O Rio de Janeiro viveu cenas memoráveis durante a invasão dos morros.

Os jornais, nos dias seguintes, mostravam manchetes desse tipo: “O Rio está de alma lavada”.

Chega a ser estupefaciente que consumidores de droga festejem a fuga e a prisão dos seus fornecedores.

Sou alertado por diversos leitores de que os culpados pelo tráfico de droga não são os traficantes. E sim os consumidores.

Obrigado pela ressalva, mas ela já estava presente em minha ideia.

E a questão é a seguinte: se não vão acabar com os consumidores, sempre haverá traficantes. Se não for na favela A, será na favela Y.

O tráfico não acabará nunca.

A não ser que tornem lícitas as drogas, isto é, que não seja crime nem usar nem vender droga. Por sinal, muita gente ilustre, culta e idônea está pregando a descriminalização das drogas, como tanto já abordei aqui nesta coluna.

Não há dúvida de que é a única solução à vista.

Na hora do pega pra capar da invasão pela polícia do Morro do Alemão, houve traficantes que tentaram fugir vestidos de garis, de mata-mosquitos, de entregadores de pizza.

Muitos foram presos, outros fugiram, centenas deles ainda se encontram lá, abrigados em casebres de moradores. Afinal, no complexo residem mais de 100 mil pessoas, muito mais gente que na maioria dos municípios do RS.

Houve traficantes que fugiram ou tentaram fugir pelos bueiros dos esgotos. Os que foram surpreendidos estavam sujos de cloaca.

O grande momento da invasão policial foi minutos antes da invasão, quando o enorme helicóptero blindado da Polícia Civil começou a sobrevoar, iluminado, as favelas do complexo.

Era a senha para a invasão, que se iniciou com 300 policiais civis, os que afinal cravaram as bandeiras do Brasil e do Rio de Janeiro no cume do morro.

Interessante é que no Rio de Janeiro, talvez pela evolução do crime, a Polícia Civil se entrega a operações de polícia ostensiva, fardada, com armamento pesado, em tudo igual à Polícia Militar.

Lá, a Polícia Civil não é só judiciária.

Os traficantes, no início da invasão, imaginando que a polícia estivesse se entregando a outra ação rápida e profilática, tentaram enfrentar as forças de segurança, disparando seus fuzis e metralhadoras.

Mas, quando viram que eram milhares os policiais e não estavam para brinquedo, trataram de fugir e salvar suas vidas.

Tudo é uma questão de número. Quando em ação durante as 24 horas do dia há mais traficantes que policiais, vence o tráfico.

Quando as forças de segurança se reúnem e assim se tornam mais numerosas que os traficantes, vencem temporariamente as forças do mal.

Só para os leitores desta coluna que não assistem ao Jornal do Almoço: eu ontem entrei no programa com um brinco na orelha direita.

A Cristina Ranzolin perguntou desde quando eu começara a usar brinco.

Eu respondi:

– Desde sexta-feira, quando minha mulher, furiosa, achou este brinco dentro do meu carro e me perguntou de quem era o objeto. Eu disse que era meu. E agora me obrigo a usá-lo sempre.

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