terça-feira, 9 de novembro de 2010



09 de novembro de 2010 | N° 16514
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


No fim dá certo

Estou numa fila – essa instituição universal que no Brasil ganhou status de PhD – quando escuto, vinda de uma mãe que tenta controlar seu filhinho inquieto, uma frase simples:

“No fim dá certo” – diz ela, e por três segundos se abre um súbito silêncio. É compreensível. A sentença chega como um decreto-lei de esperança e de bom-senso em meio à agitação dos que se postam, sem paciência, à espera de que cheguem a um guichê.

“No fim dá certo” – penso, e me sinto mais conformado com a longa espera pela chamada de minha senha. Mas ao mesmo tempo percebo que a frase não cabe apenas para aquela lenta, desordenada agonia da espera. Serve também para a vida real, essa que transcorre longe dos guichês.

É como uma antecipada certeza de que, por mais desorganizados que sejam os fatos e as coisas, acabam ancorando em um porto seguro de harmonia.

Uma vez tive de tomar um voo para Brasília. Precisava fazer uma comunicação importante em um encontro sobre Educação. Minha fala era esperada para dar rumo a um dos debates sobre formação humanística. Contavam com ela para ser guia de uma série de discussões sobre isso que chamam de as Ciências Humanas.

Mas sucedeu que o avião em que eu deveria embarcar se enredou no mapa das rotas aéreas nacionais. Primeiro anunciaram um atraso de meia hora, que logo se transformou em uma hora e meia, e em seguida em nada menos do que duas horas e pico. Resultado: perdi a conexão que faria em São Paulo e, como era previsível, o timing da conferência. Mas o mundo não desabou: alguém tomou meu lugar no encontro e deu o recado, seguramente com mais competência do que este orador ocasional.

Outra vez foi na Alemanha. Eu deveria participar de um seminário sobre as instáveis relações entre o Primeiro e o Terceiro Mundos. Pois não é que no dia marcado me vi prisioneiro de uma gripe desmoralizante? Eu não conseguia sequer emitir um parágrafo simples sem tossir. Avisei o diretor do curso sobre o meu lastimável estado. Ele providenciou imediatamente um substituto colombiano e no fim tudo deu certo.

Pois no fim tudo dá certo, não importa a dimensão de nossas ansiedades e angústias.

Uma linda terça-feira pra vc, ainda que com previsão de chuva. Aproveite o dia

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