sábado, 6 de novembro de 2010



07 de novembro de 2010 | N° 16512
MARTHA MEDEIROS


Yes, Sir!

Quando Paul, John, George e Ringo começaram a tocar juntos em Liverpool, mais por farra do que por qualquer outra coisa, eram uns frangotes. Paul tinha 16, John tinha 17, George os conheceu com 14, enfim, estavam apenas tirando uma onda. A biografia de Paul McCartney, Many Years from Now, traz uma revelação curiosa.

Paul diz que quando estavam quase entrando na casa dos 18, a Grã-Bretanha vetou a obrigatoriedade do serviço militar. Caso continuasse obrigatório, muito provavelmente os guris se dispersariam e a banda teria sido apenas um passatempo da juventude.

Paul acreditava, inclusive, que a carreira de Elvis Presley havia sido prejudicada com sua entrada para o Exército, em 1958, quando já era um astro.

Conjecturas à parte, a verdade é que Paul não tinha mesmo talento para a obediência. Apesar de até hoje ser considerado o “bonzinho” do grupo, em contraponto ao bad boy John Lennon, ele tinha uma alma mais inquieta do que se supunha. Sua criatividade era inesgotável e imprimiu o experimentalismo em toda a sua trajetória. Paul era solar, mas não era trouxa.

Seu aparente bom-mocismo poderia sugerir que ele daria um recruta exemplar, mas Paul não havia nascido para bater continência e dizer “Yes, Sir!”. Tinha mais o que fazer. Havia a música, o sexo e a liberdade. Compor era uma moleza.

Ele e Lennon ficavam sentados de frente um para o outro por duas ou três horas e dali saía um A Hard Day’s Night, um Can’t Buy Me Love. Segundo ele, os Beatles foram um sucesso porque faziam tudo com bom humor, eram invulgares e não perdiam a oportunidade de colocar alguma coisinha subversiva em cada música. Não havia pressão. E se algo lhes desagradava, era simples: “No, Sir”.

Eles estavam a serviço da curtição. Tudo parecia fácil e dava certo. Garotas, fama, dinheiro, o topo das paradas. Mas não se contentavam com o ótimo, queriam o diferente, e foi graças a essa fome de inventividade que se transformaram numa banda excepcional.

Gravavam com distorções técnicas, colocavam orquestras nos estúdios, criavam alter-egos musicais, exigiam que o novo álbum fosse sempre mais complexo do que o anterior e arriscavam ser vanguardistas quando a palavra ainda nem era um rótulo.

Por tudo isso, neste domingo eu é que estarei em posição de sentido no gramado do Beira-Rio, batendo continência pra ele, o representante de uma banda que não teve fim e de uma época que, conforme suas palavras, ainda nem começou.

“Pra mim, os anos 60 estão por chegar. É espantoso, mas sinto que estamos numa espécie de dobra temporal e que os anos 60 ainda estão por acontecer.”

Ele segue perseguindo o futuro. É mesmo um Beatle.

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