Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
terça-feira, 23 de novembro de 2010
23 de novembro de 2010 | N° 16528
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA
Idade da Pedra
Toda essa inglória batalha em torno do Enem me faz recordar a época em que tudo era mais exato, mais prático e mais simples. Não estou falando de eras imemoriais, mas do princípio dos anos 60, quando cada faculdade aplicava provas por ela mesma elaboradas para escolher os estudantes que iriam frequentar seus cursos.
Para mim, foi uma dura luta ingressar no primeiro ano da Faculdade de Direito da UFRGS. Durante três meses, eu despertava às quatro e meia da madrugada e, às cinco, depois do banho e do café, imergia no mundo da Filosofia, do Português, do Francês e do Latim.
Me entreguei a isso com tanta seriedade que às vezes passava da hora do almoço e eu ainda estava envolvido com a análise sintática de uma estrofe de Camões, ou com uma reflexão abissal de Karl Jaspers.
Não me dediquei por inteiro a esse desafio. De tarde, depois de uma sesta reparadora, ia procurar meus amigos ou, de preferência, minhas amigas, aquelas pelas quais eu tinha particular apreço e consideração.
Os exames eram duplos. Além de você encarar as provas escritas, tinha ainda de enfrentar as orais. Quer dizer: você era chamado a sentar diante da banca e responder ao que aquelas sumidades perguntassem sobre Francês/Inglês (a escolha era sua), Português, Latim e Filosofia.
Mas aí havia lugar para um jogo de cintura. O professor Armando Câmara costumava indagar a definição de valor. E aí você rebatia: “Valor é o próprio ser, visualizado intelectualmente numa perspectiva de finalidade”. Pronto: nota 10. O professor Carlos Jorge Appel não deixava de sondar seus conhecimentos sobre Fernando Pessoa. E aí você recitava: “O poeta é um fingidor. Finge tão completamente/ que chega a fingir que é dor/ a dor que deveras sente”. Outro 10.
Só derrapei mesmo na prova de Latim. A primeira questão, que valia dois pontos, era escandir uns versos de Virgílio. Eu dominava a escansão tão inteiramente que a deixei para o final do exame, e aí me esqueci de preenchê-la. Foram os dois pontos que me faltaram para ser o primeiro lugar no vestibular.
Hoje tudo mudou. A massificada e trágica comédia de erros do Enem mostra que regredimos à Idade da Pedra na seleção de alunos para a Universidade.
Excelente terça-feira pra vc. aproveite o dia.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário