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segunda-feira, 22 de novembro de 2010
22 de novembro de 2010 | N° 16527
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Antes que o mundo acabe
O bom filme tem o dever preliminar de ser competente no seu roteiro, no tratamento da imagem, do som, dos movimentos de câmera, da adequação da luz. O bom filme tem o dever ajudar-nos a entender essa aventura sempre repetida e sempre nova que é a existência humana. Isso encontramos em Antes que o Mundo Acabe, de Ana Luiza Azevedo, produção de 2010 da Casa de Cinema de Porto Alegre, e inspirado no livro homônimo de Marcelo Carneiro da Cunha.
A competência, neste caso, é impecável, tocando, a todo o momento, os limites do excelente e do insuperável. Há uma artista completa por detrás da câmera, segura da maturidade de seu talento e explorando-o com intenso brilho.
Antes que o Mundo Acabe é uma alegoria em ação: o mundo que está a ponto de acabar é a adolescência dos três protagonistas, que vivem numa pequena cidade e cujo universo de preocupações não ultrapassa os muros da escola, a casa em que vivem e as adjacências da geografia urbana. Tudo pronto para uma história convencional, portanto.
O filme de Ana Luiza Azevedo, contudo, constrói uma tragédia com a força e o drama dos épicos, captando com habilidade aquilo que, independente da idade, é constante em nossa precária condição. O motivo deflagrador da trama é a destruição do laboratório de experiências químicas de uma escola. A caçada ao culpado cria uma teia de delações, suspeitas, pequenas grandezas.
A densidade crescente do conflito pode ser cortado à faca. O labirinto de incertezas decorrentes da transgressão faz com que os protagonistas assumam atitudes que muitas vezes ultrapassam suas capacidades de julgamento, e aí temos a tragédia em seu estado puro.
A esse quadro soma-se um pai que não conhece o filho e que vive na Ásia, a retratar um mundo que também acabará, um mundo ainda ingênuo, ainda não massacrado pela padronização pós-moderna.
A destacar, para o quadro ficar completo, a concentrada e sóbria interpretação dos atores adolescentes, que não apresentam os cacoetes do overacting que por vezes as telenovelas autorizam aos jovens intérpretes. Sabem que fazem cinema, contam com uma sábia direção e convencem com naturalidade e graça.
Nada mais precisamos para dizer que estamos frente a um filme inesquecível. Veja, comprove.
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