terça-feira, 23 de novembro de 2010



23 de novembro de 2010 | N° 16528
LUÍS AUGUSTO FISCHER


Samba de presente

Para quem gosta de samba, de cultura carioca ou enfim daquele mix social peculiar do final dos anos 1920, origem do samba tal como nós o conhecemos, vai o anúncio: apareceu um livro imperdível na praça.

É Samba de Sambar do Estácio (1928-1931), de Humberto M. Franceschi, que o Instituto Moreira Salles botou na roda agorinha mesmo. Pode-se começar a resenha pelo papel ou pelo DVD que acompanha o conjunto, ambos de grande qualidade.

Ou por um terceiro lado, a identificação do autor. Descendente de famílias de alta estirpe do Império, é um dos mais importantes pesquisadores da música popular do Rio de Janeiro. É dele, por exemplo, aquela publicação impagável A Casa Edison e Seu Tempo, com uma coleção de CDs que, uma vez divulgados, fizeram pela memória brasileira o que poucas instituições fizeram.

E note que estamos falando de memória do mundo popular, da tradição oral, naquele mundo em que religião afrobrasileira, marginalidade social e intuição artística andavam de mãos dadas, tudo convergindo no que chamamos, simplificadamente, de samba, um dos produtos mais notáveis da vida brasileira, no passado, agora e para sempre.

Aos 80 anos, tendo já disponibilizado parte de seu fantástico acervo no site do Instituto Moreira Salles (ims.uol.com.br), Franceschi agora traz essa nova joia: um livro contendo relatos sobre o mundo do Estácio, bairro que viu nascer a Deixa Falar, uma agrupação rara de talentos para a música, mas também uma das primeiras instituições sociais a fazer a música popular circular pela cidade toda.

Quem são os caras: Ismael Silva, depois parceiro de Noel Rosa; Bide e Marçal, autores daquele que é tido por muitos como o mais perfeito samba de todos os tempos, Agora é Cinza; mais Brancura, Heitor dos Prazeres, Rubens Barcellos e outros.

Foi o pessoal que fez o samba cadenciado, estiloso, afastado do samba amaxixado de Sinhô; foi o pessoal que inventou instrumentos como o surdo, bolação de Bide, sapateiro, para marcar o ritmo audível para as multidões crescentes a acompanhar os desfiles.

O DVD que acompanha o livro é uma, aliás, várias aulas. Nele há dezenas de sambas do Estácio, outras tantas imagens dos sambistas e de cenas daquele mundo, além de uma série de pequenos depoimentos do autor, relatando aspectos do tema, vibrando com a descoberta de novos materiais, dando enfim um panorama vivo daquele mundo que é uma das caras mais significativas do país. Não falei que era imperdível?

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