Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 13 de novembro de 2010
14 de novembro de 2010 | N° 16519
DAVID COIMBRA
A foto do presunto
Nos velhos tempos da máquina de escrever e da lauda, do telefone com disco e do telex, o repórter de polícia tinha sempre de trazer à redação a foto do presunto.
“Presunto”, no caso, era a maneira chula como nos referíamos ao morto de morte matada. Os editores diziam que o leitor precisava ver a cara da vítima. Precisava reconhecê-la. Afinal, ela era protagonista da história a ser contada.
O problema é que a família do defunto nunca queria ceder foto dele. Compreensível. Ninguém gosta de ver um “ente querido” na página policial.
Numa dessas, lá estava o atilado repórter Antoninho Gonzalez e o fotógrafo com o qual formava dupla naquele tempo de duplas repórter-fotógrafo, ambos na azáfama de conseguir a foto de um morto que estava sendo velado na casa da família. Sem outra saída, percebendo que não conseguiria a foto, o Antoninho traçou um plano. Apontou o interior da casa para o fotógrafo:
– Olha lá: está cheio de retrato do falecido na parede. Vamos fazer assim: vou lá atrás, no pátio, e vou desligar a energia. Quando ficar tudo escuro, você entra correndo, pega um quadro dele, coloca na bolsa e vamos para o jornal. Combinado?
Combinado.
Antoninho esgueirou-se até os fundos da casa. Lá, encontrou a caixa-de-força e, TCHUNS!, cortou a energia. As trevas desabaram sobre o lugar, foi aquele gritedo, ninguém se entendia. O fotógrafo, aproveitando-se da confusão, entrou correndo, surrupiou um quadro da parede, enfiou-o na bolsa e zuniu para fora. Voltaram os dois saltitantes para a redação. Lá chegando, tiraram o retrato da bolsa e...
...e...
...era Jesus Cristo.
Contei essa história na Feira do Livro, quinta passada, durante um debate do qual participávamos eu, meu amigo Juremir Machado da Silva, e dois velhos lobos da imprensa, Celito de Grandi e Elmar Bones, o “Bicudo”.
Falávamos de história, de literatura e de jornalismo. De como o jornalismo mudou com as mudanças do mundo. De fato. No futebol, inclusive. Havia, no ambiente do futebol gaúcho de meados do século 20, um repórter impagável: Édson Pires, alcunha “Rei do Furo”.
Um dos furos que lhe valeram o apodo, Édson Pires conseguiu-o assistindo clandestinamente a uma reunião da Federação Gaúcha de Futebol. Como ele cometeu essa façanha?
Com um ardil único: escondendo-se debaixo da mesa em torno à qual se reuniam os presidentes dos clubes. Os participantes da reunião não o viram porque a mesa estava coberta por uma grande toalha.
Hoje, o Rei do Furo seria descoberto. As mesas de reunião não são mais cobertas por toalhas.
Os tempos são outros, realmente. Nos anos 80 nós fazíamos reunião de pauta no bar. Não o bar da redação, o bar mesmo, com a cerveja gelada lubrificando nossos cérebros e melhorando a qualidade das matérias.
Quando a edição ficava pronta, voltávamos ao bar. Foram vários os bares dos vários jornais em que trabalhei. Havia uma churrascaria do Menino Deus onde a turma costumava dobrar a curva mais sombria das madrugadas. Foi lá que um dia um respeitável colega levantou-se e bateu com o garfo no copo, anunciando que ia falar. Todos silenciaram. Ele:
– Quero anunciar que, a partir de hoje, sou gay. Vou casar com o Arlindo.
Que côsa.
Já nos anos 90, não muito tempo atrás, a relação entre jornalistas e jogadores era bem diferente do que é hoje. Uma vez, o Guerrinha, então setorista do Inter, decidiu provar que o Fabiano Cachaça não era mais o pândego de outrora. Que ele havia se regenerado.
Que era um santarrão. Levou-o para o parquinho da Redenção, fez com que se sentasse no elefantinho do carrossel e dê-lhe a tirar foto. A imagem do Fabiano refestelado no elefantinho cor-de-rosa tornou-se histórica. Mas não foi o suficiente para convencer o mundo de que Fabiano, o chamado Uh Fabiano, era agora um novo homem.
Guerrinha tirou-o do Beira-Rio de novo e o arrastou para a Igreja Santa Terezinha. Desta vez, Fabiano foi fotografado ajoelhado no genuflexório da igreja, as mãos postas, o olhar pio fixo na imagem do Cristo crucificado, aparentemente rezando pelo perdão de seus pecados pretéritos.
O Guerrinha quase transformou o Uh Fabiano em carola. Quase.
Velhos tempos do jornalismo. É certo que não tinham a seriedade de hoje. É certo que eram mais divertidos.
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