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quarta-feira, 10 de novembro de 2010
10 de novembro de 2010 | N° 16515
MARTHA MEDEIROS
Agilidade não é a nossa praia
A morte do surfista Thiago Rufatto, que ficou preso numa rede de pesca em Capão da Canoa na semana passada, representa, além de uma tragédia pessoal para sua família e amigos, mais um exemplo da morosidade do Rio Grande do Sul. Ele não foi o primeiro, nem o segundo surfista a ser vítima da falta de sinalização: foi o 49º.
E, ainda assim, esses esportistas seguem contando apenas com placas fincadas na areia alertando sobre áreas reservadas para pesca, como se lá no meio do mar fosse possível visualizá-las e como se não houvesse correntes que nos deslocam dentro d’água sem a gente perceber.
Por que não há sinalização dentro do mar, através de boias? Provavelmente porque antes seria preciso fazer 400 reuniões, plebiscitos, pesquisas de opinião pública, orçamentos, consultas à Marinha, estudos sobre impacto ambiental e ainda ouvir o que dizem os astrólogos a respeito. Agilidade não é a nossa praia.
O novo Teatro da Ospa não ter sido construído até hoje, a ponto de desestimular o maestro Isaac Karabtchevsky a seguir dirigindo sua orquestra, é de envergonhar. O projeto de revitalização do cais do porto já deveria ter sido concluído há no mínimo 10 anos, mas parece que temos um fascínio patológico por maquetes e plantas baixas.
Basta que haja um projeto no papel para que pareça que está tudo andando. Somos os reis dos projetos: aeromóvel, ciclovias, revitalização da orla. Que beleza de metrópole poderíamos ser, e de “poderíamos ser” vamos vivendo.
Óbvio que a Redenção já deveria ter sido cercada para preservação de seus jardins e maior segurança da população, mas oh, que disparate, e nossa liberdade de ir e vir? Ninguém pensa um segundo antes de colocar grade na basculante do banheiro, mas quando se trata do patrimônio público, todo mundo vira bicho-grilo.
O Central Park, de Nova York, o Hyde Park, de Londres, e o Jardim de Luxemburgo, de Paris, só para citar três cartões-postais universais, são cercados e nem por isso perdem seu impacto de beleza e a integração com a população. Mas aqui tudo tem que ser debatido por pelo menos 20 anos até se chegar a um consenso. Eu também adoraria que para tudo existisse um consenso, não fosse isso um contrassenso. Não é possível agradar a todos, quem não sabe?
Totalitarismo é algo que ninguém deseja, mas firmeza é outra coisa. Pense nas decisões que são tomadas na sua casa, entre quatro paredes: quando cada um tem uma opinião diferente e a conversa se estende além do razoável, alguém precisa interromper o blá-blá-blá e agir, em vez de ficar esperando que os astros se alinhem no céu e provoquem um entendimento transcendental.
É uma atitude antipática? Que seja. Sempre haverá os do contra, e, se eles ficarem desgostosos com a situação, paciência. O que não se pode é passar a vida aguardando uma aprovação absoluta. Um pouco de audácia e rapidez incrementaria bastante o nosso tão alardeado orgulho gaúcho.
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