19 de novembro de 2010 | N° 16524
PAULO SANT’ANA
Polícia de mãos ao alto
Não há nenhuma surpresa no assalto de que foram vítimas dois policiais federais, ontem, na Vila Protásio Alves, aqui na Capital.
Os dois policiais foram retirados de dentro do carro Astra, da Polícia Federal, imobilizados pelos assaltantes, que depois os alvejaram com tiros, que não tiveram direção certeira.
Mas os assaltantes levaram o veículo da Polícia Federal: é lógico, o carro era discreto, portanto tinha placas frias.
Não há qualquer surpresa. Todas as pessoas que estiverem dentro de carros podem ser vítimas de assalto. Até mesmo policiais que estiverem dentro de viaturas oficiais, com letreiros ostensivos. Então, não vejo por que o espanto sobre um assalto a policiais tripulando veículo discreto, visivelmente entregues a uma investigação, numa atitude que na gíria policial se chama de campana.
Felizmente, um dos policiais imobilizados pelos assaltantes não intentou reagir, apesar de estar armado. Foi melhor assim, salvaram-se vidas.
De posse do carro policial, os assaltantes devem ter-se atemorizado porque havia dentro dele uma jaqueta da Polícia Federal e um dos revólveres que roubaram tinha a placa com insígnia policial.
Devem ter pensado: “Entramos em uma fria, assaltamos policiais federais, nesta hora todo o potencial policial, federal e estadual, deve estar atrás de nós”.
Foi por isso que o carro roubado foi encontrado 15 minutos após o assalto, abandonado e chaveado, sem as chaves.
Os ladrões trataram desde logo de se livrar do carro e escafederam-se pelas redondezas.
O móvel desses assaltos é o de vender os carros roubados, por preço modesto, para os desmanches. Isso é uma praga social, que eleva o preço do seguro de veículo às nuvens.
Os policiais federais estavam num Astra, um carro de respeitável valor financeiro. Foi isso que atraiu a cobiça dos assaltantes.
Mas, quando os ladrões sentiram que estavam na posse de um carro roubado da Polícia Federal, se apavoraram. E trataram de fugir, deixando o carro, mas calculo que levando a pistola e uma máquina de fotografia roubadas dos agentes.
Ainda sobre a ausência de surpresa no incidente: há alguém de alarmar-se com o fato de que os dois policiais se deixaram apanhar como patinhos pelos ladrões.
Também nesse detalhe não há nada de inesperado. Os policiais federais eram da delegacia de Bagé, estavam aqui na Capital investigando quiçá tráfico de drogas.
Pois bem, os dois policiais colocaram-se de tocaia, junto do lugar que era o alvo de suas investigações.
Não podia passar pela cabeça dos dois agentes, que, notem bem, estavam caçando traficantes, fossem eles caçados por ladrões. Isso era a última coisa que esperavam. E que por uma dessas coincidências espantosas aconteceu.
O fato é que causa rumor que até a polícia seja assaltada. Logo vem o raciocínio óbvio: se até a polícia é assaltada, o que sobra para os cidadãos comuns?
Com relação a este caso, não é bem assim, mas é mais ou menos: o fato é que toda a cidadania deve estar alerta, os assaltos são curiais, normais, rotineiros. E todos devem tomar o máximo cuidado, e, embora muita gente discuta esta verdade-conselho, o mais sensato é não reagir.
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