Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
18 de novembro de 2010 | N° 16523
L. F. VERISSIMO
Procurando a tônica
Sabe bem quem faz música que, principalmente no improviso, não se pode perder de vista a nota tônica. Ela é uma espécie de farol para quem navega na invenção musical. Sabendo onde ela está, nem o navegador mais intrépido se perde. Mas quem não sabe qual é a tônica de saída pode ter alguma dificuldade em encontrá-la. E só a identificar tarde demais, quando seu improviso desorientado já tiver se destroçado contra os corais.
Não é fácil descobrir a tônica de uma era, ou de um governo. Ela geralmente só se revela no futuro, a historiadores ou arqueólogos, e mesmo assim nem sempre com clareza. Qual foi a tônica da sucessão de governos que tivemos no Brasil depois do regime militar?
O Fernando Henrique pulou todas as administrações anteriores e posteriores às dos militares e o próprio regime militar e declarou que seu governo representava o fim da Era Vargas. Quem poderia, com mais justiça, reivindicar ser o fim de tudo que Vargas simbolizava seria o breve governo Collor, com seu choque de neoliberalismo, mas o Fernando Henrique tem direito à sua autoavaliação.
A tônica de todo o período seria então a transformação do Estado brasileiro de acordo com a visão liberal, que o Fernando Henrique continuou e o PT de Lula combateu mas não interrompeu? Só uma prolongada reverberação do choque do Collor?
Na música, só para complicar, existem a tônica e a subtônica. Talvez a subtônica da era tenha sido esse lento e acidentado distanciamento do velho regime e seus velhos hábitos. E a tônica, as reincidentes manobras do patriciado nacional para protelar uma real democratização do país, que vem desde a segunda queda de Vargas, passa pela reação às “reformas de base” no governo Jango e pelo golpe de 64 e a demonização do PT e inclui até – se você quiser ser detalhista – a adesão do PT à política econômica do governo anterior para poder se eleger.
A “classe perigosa”, como era chamado o povão antes da Revolução Francesa, chegou ao poder prometendo não ser muito perigosa.
Mas conseguiu distribuir renda, aumentar a classe consumista e seu poder aquisitivo e criar engarrafamentos de trânsito nunca antes vistos. No futuro, os historiadores nos dirão se a tônica do governo Lula foi, afinal, a ascensão social inédita ou apenas outra protelação. A “classe perigosa” chegou ao poder prometendo não ser muito perigosa
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