quinta-feira, 25 de novembro de 2010



25 de novembro de 2010 | N° 16530
PAULO SANT’ANA


O segredo

Tenho particularmente fascínio por um tema: o segredo.

Acho até que uma das grandes atrações da vida é poder guardar um segredo.

Há diversas nuanças entre os segredos. Vou pinçar agora uma: duas pessoas se amam e mantêm em segredo o seu amor. Ele é curtido silenciosamente entre os dois, as outras pessoas todas que vivem ao derredor desses dois enamorados desconhecem completamente que eles se amam.

Evidentemente que os compromissos e as convenções sociais impelem esses dois namorados secretos a manterem seu segredo.

Se por um lado custa-lhes muito caro manter esse segredo, que caso fosse violado ameaçaria a sobrevivência do amor oculto, por outro é extremamente delicioso para os dois amantes que eles não confiem a ninguém o seu segredo.

Os dois comparecem a reuniões, almoços, jantares, festas, ninguém desconfia deles. E eles curtindo saborosamente o seu segredo.

O diabo é que o segredo sempre carrega dentro de si uma culpa, uma vontade de desabafar, um ímpeto de gritar ao mundo que todos deveriam ficar sabendo daquilo, libertar-se assim dos grilhões que amarram o seu segredo.

“Ela sabe que eu a amo, eu sei que a amo, isto é o suficiente.” Será mesmo isso suficiente?

Quantos e quantos casos de amor inundam o cotidiano, nos quais a marca mais genuína é a confidencialidade?

Este segredo em amar é muito frequente em pessoas casadas, que querem manter seus laços conjugais e temem mergulhar nos riscos da aventura extraconjugal ou da separação, se o segredo for violado.

Mais frequente que o segredo guardado a sete chaves por duas pessoas é o segredo que pertence a uma só pessoa.

Ela ama, mas ninguém sabe que ela ama, nem mesmo a pessoa que por ela é amada.

Parece uma idiotice não noticiar a uma pessoa a quem se ama que ela é assim intensamente amada, mas não é. A vida trata ela mesma de antepor obstáculos vários entre as pessoas que amam.

Quando alguém ama e a pessoa amada não tem conhecimento disso, imaginem a tensão, o nervosismo, a intensa emoção da pessoa que ama quando se encontra com a pessoa amada, o seu constrangimento em não revelar por nenhum gesto ou palavra o seu segredo!

Sempre, o detentor de qualquer segredo é um prisioneiro dele. Ele não vai dormir por sequer qualquer noite sem preocupar-se com seu segredo.

E muitas vezes aquele segredo amassa tanto seu detentor, que ele não resiste e acaba rompendo o segredo.

Se por um lado arrastará todas as consequências da violação do seu sigilo, por outro quem conta um segredo saboreia a deliciosa sensação de liberdade, tirou de cima do seu corpo aquele fardo pesado e insuportável.

Pronto, não existe mais o segredo. Mas de que irá viver daqui para a frente quem não tem mais um segredo sob sua guarda?

O violador do segredo mergulha num escuro abismo de vazio.

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