sábado, 13 de novembro de 2010



13 de novembro de 2010 | N° 16518
NILSON SOUZA


Parêntese

Acabou. E, se não acabou ainda, vai acabar logo, logo.

Depois de ler uma entrevista com o professor dinamarquês Thomas Pettitt, publicada pelo Globo, me convenci de que não devemos nos iludir em relação à sobrevivência da palavra impressa nos moldes em que a conhecemos atualmente.

Resumindo a tese do homem dos quatro tês: livros e jornais estão prestes a se tornar peças de museu. De acordo com sua teoria, estamos chegando ao fim do que ele batizou de Parêntese de Gutenberg – o período de cerca de 400 anos em que prevaleceu a imprensa (não apenas no sentido de jornalismo) como forma de comunicação, de divulgação de ideias e de preservação da história.

Antes de Gutenberg, ele lembra, a cultura era transmitida oralmente, por meio de canções, contação de histórias e encenações. Valia o som e o imediatismo. Com a invenção do tipo móvel, a verdade deslocou-se para o papel.

Tudo o que era impresso passou a ter valor – e assim permanecemos até hoje. Porém, o rádio, a TV e o cinema já passaram a privilegiar a oralidade. E agora, com as novas mídias, passamos a falar com os dedos. Tudo é tão imediato, que a escrita ficou muito mais próxima da fala. Logo, adverte o professor, todos os livros e jornais estarão digitalizados – e ingressaremos numa nova era, muito semelhante à que existia antes da invenção da imprensa. Daí o Parêntese de Gutenberg, o intervalo de tempo em que a palavra impressa teve o seu valor, talvez apenas um breve hiato na história da humanidade.

Vai mais longe a tese do dinamarquês. A era do livro também teria gerado uma visão de mundo que separa as coisas em categorias rígidas, segundo ele menos definidas antes de serem prensadas no papel. Pois agora, por conta da revolução digital, estaríamos voltando a um período de tolerância maior, de mais misturas e menos classificações.

Tudo porque a escrita era considerada mais verdadeira do que a fala, assim como uma encadernação de couro impõe mais respeito do que um manuscrito. Pois os e-mails fecharam este parêntese.

– E a verdade, onde fica? – perguntou o entrevistador. Fica exatamente como na Idade Média, quando as notícias chegavam aos lugares remotos por mensageiros e viajantes estrangeiros. As pessoas tinham que decidir em quem acreditar. E davam crédito a quem conquistava a fama de falar sempre a verdade. Ou seja: valia (e vai continuar valendo, se me permitem um último parêntese) a reputação do mensageiro.

Digite-se e publique-se.

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