sábado, 27 de novembro de 2010



28 de novembro de 2010 | N° 16533
PAULO SANT’ANA | MÁRIO MARCOS DE SOUZA - INTERINO


Aos mestres, com carinho

Nunca esqueci do toque daquela mão. Quando subi uma pequena rua para meu primeiro dia de aula, estava inseguro, trêmulo, assustado, louco para soltar as mãos firmes e calejadas de marceneiro de meu pai e fugir dali. Foi então que vi o braço estendido. Foi um toque mágico.

Quando segurei a mão direita daquele mulher meiga, com cabelos claros e voz suave, perdi todo o medo e me refugiei no conforto de dona Teresinha, a mulher que seria minha professora. Foi a primeira e fulminante paixão da minha vida. Durou pouco, mas nunca mais esqueci daquele dia – e olha que já se passaram 55 anos.

Não foi a única professora a me marcar profundamente. A outra eu conheci melhor ainda – uma normalista chamada Antonina. Minha mãe. O que mais me impressionava era a relação dela com os alunos. Lembro bem do orgulho que sentia, já chegando à adolescência, quando caminhava ao lado dela e via pessoas mais velhas irem em sua direção para um cumprimento respeitoso.

Ficavam ali, muitas vezes mostrando a antiga professora para os filhos, e falando das velhas lições. Era uma conversa cheia de reverências. Parecia não haver nada mais importante na vida de cada um daqueles já senhores do que a antiga professora. Dava um orgulho danado.

As duas explicam bem o respeito e o fascínio que sempre tive pelo trabalho das professoras (sou tão fascinado por elas, que me casei com uma). Como não admirar? Elas fazem parte de uma categoria desvalorizada por sucessivos governos, desrespeitada por muitos alunos e pais, submetem-se ao esforço de trabalhar em escolas sem condições, ganham pouco e mesmo assim não desistem.

Mantêm a força e o entusiasmo para educar nossos filhos – e nem sempre são devidamente reconhecidas. Não há uma pessoa que não tenha a imagem de uma professora ou de um professor bem guardada lá naquela zona cerebral dos afetos.

Por isso, se tivesse direito de fazer um único pedido ao futuro governador Tarso Genro, seria este: encare o magistério como a primeira de suas prioridades. Tudo começa por aí. Melhore os salários e as escolas, acabe para sempre com este equívoco da enturmação, rejeite aquela ideia típica de gestores de que o Estado tem de funcionar como uma empresa. Nem sempre. Se houver uma única criança em uma escolinha da zona rural, lá deve estar um professor.

Esta é a obrigação do Estado, dar educação a seus jovens, não importa se a planilha de custos desça alguns graus. Não se pode raciocinar com a cabeça dos xerifes do cofre quando o investimento envolve a educação das pessoas.

Nem precisamos olhar para países ricos para buscar exemplos. Cuba, que é pobre, com número de habitantes semelhante ao do Rio Grande do Sul, mantém turmas de no máximo 20 crianças por sala.

Seus especialistas concluíram que todos ganham, professores e alunos. Lá não há crianças abandonadas, nem pedintes, como qualquer turista pode comprovar, mesmo os que repudiam o regime político do país. Por quê? Porque todas estão nas escolas, das 8h às 16h.

Se Cuba consegue, por que nós ficamos tão longe disso? Invista na área, governador, com a certeza de que as gerações futuras agradecerão. Depois, então, quando todas as escolas estiverem em um mesmo nível, o senhor verá que nenhum professor reclamará de avaliações de mérito – e as crianças nunca mais esquecerão das donas Teresinhas e Antoninas de suas vidas.

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