terça-feira, 16 de novembro de 2010



16 de novembro de 2010 | N° 16521
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Raízes da alma

Quando eu frequentava o Clássico – que era um curso de três anos que tinha antes do vestibular – estudei as tragédias gregas. Aprendi então que elas costumavam terminar mal, que o destino jogava um papel importante na trama e que o papel dos heróis tinha características fatídicas. Me ensinaram ainda que o gênero foi imitado através dos séculos, sem maior êxito, em especial pelo teatro francês.

Alguém poderá perguntar por que assunto tão complexo era parte do cardápio da escola média. A resposta é simples. Édipo, Jocasta, Antígona e companhia integravam o currículo porque o curso se atrevia a mergulhar nas raízes da alma humana.

Leio agora na Veja que tramitam hoje no Congresso Nacional 76 projetos de lei que visam a incluir novas matérias na grade letiva. Se forem aprovados, os estudantes terão aulas sobre cooperativismo, para orientá-los a refutar o capitalismo.

Ora, uma cooperativa é uma sociedade que objetiva desenvolver a economia de seus membros através do apoio mútuo. Não se destina a rebater o capitalismo, hoje presente até na China.

Os alunos absorverão também algo chamado de educação para as mídias, uma espécie de olhar crítico sobre o noticiário. Será esforço perdido. A melhor educação para as mídias é proporcionada todos os dias pelos jornais, rádios e emissoras de TV. Baseia-se num pressuposto elementar: a veracidade, a exatidão, a isenção e a honestidade de cada linha difundida.

E sobrou ainda lugar para o esperanto. A língua auxiliar internacional criada por Zamenhof promoveria a comunicação entre sociedades distantes, quando não antípodas. Esse papel é hoje do inglês, como já foi do francês e do latim.

Não tenho absolutamente nada contra o cooperativismo, a leitura crítica das mídias ou o esperanto. Bem ao contrário. O que me preocupa é a real prioridade de todas essas propostas para os adolescentes brasileiros.

No Clássico, estudei filosofia, latim, francês, sociologia, espanhol, sem esquecer matemática, química e física. Uma reforma do ensino mal aplicada e pior digerida baniu todas essas disciplinas dos currículos de formação humanística. Toda a educação se empobreceu com isso.

A hora é de resgatá-las, com a importância a elas devida, já que vem aí um novo governo.

Ótima terça-feira e uma gostosa semana pra vc

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