Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 20 de novembro de 2010
21 de novembro de 2010 | N° 16526
PAULO SANT’ANA
Ninguém me ama
Há gente que não sabe que é gorda. E há gente que não sabe que é velha.
Há muita gente que não enxerga as suas desvantagens. Isso se chama deficiência na autocrítica.
Há quem não seja feio e se considera feio. E há gente que é feia e se considera bonita.
Há muitos que não têm a mínima ideia do que pensam os outros de si. E por esse vazio que vem do exterior fazem de si próprios um juízo que passa a ser predominante.
Não sei bem se é bom que façam bom juízo de si. Como não sei se lhes é favorável que façam mau juízo de si.
Eu, por exemplo, sou megalomaníaco. Exagero, portanto, quanto ao valor que imprimo às minhas qualidades.
Para tanto, fiz uma frase antológica que define a minha megalomania. Foi no Jornal do Almoço, com a Cristina Ranzolin. No meio de uma conversa inconsequente, lasquei: “O meu ego só é menor do que meu talento”.
Cá para nós, uma frase memorável, que há de ser esculpida em todos os tratados psicanalíticos sobre a megalomania.
O jornalista Antônio Maria foi para mim o maior colunista brasileiro. Ouso dizer idiotamente que suas crônicas eram mais belas que as do grande Rubem Braga.
Eu achava o Antônio Maria mais intimista que o Rubem Braga, mais poeta, mais musical, mais mulheristicamente amorável que o Rubem, que era chamado de o Sabiá da Crônica.
Pois bem, era gordo e feio o Antônio Maria. Mas, como há três valores que podem conquistar as mulheres: a beleza masculina, o dinheiro e a inteligência, o Antônio Maria tinha o último. Sua sensibilidade conquistava as maiores mulheres cariocas. Ele chegou a ser marido da Danusa Leão, àquele tempo, anos 50, uma gata espetacular, que ele roubou do Samuel Wainer, seu patrão, dono do jornal Última Hora, em que ele, Antônio Maria, escrevia. Já pensaram o que é roubar a mulher do patrão, pois o Maria cometeu essa façanha.
Onde é que eu queria chegar mesmo? É que Antônio Maria era craque em autocrítica. Notem isso no célebre samba-canção que criou, Ninguém me Ama, que ficou sendo a sua obra-prima:
Ninguém me ama
Ninguém me quer
Ninguém me chama
De meu amor
A vida passa
E eu sem ninguém
E quem me abraça
Não me quer bem
Vim pela noite tão longa
De fracasso em fracasso
E hoje distante de tudo
Me resta o cansaço
Cansaço da vida
Cansaço de mim
Velhice chegando
E eu chegando ao fim
Ninguém me ama
Ninguém me quer.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário