Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 20 de novembro de 2010
21 de novembro de 2010 | N° 16526
VERISSIMO
A estátua
Era uma pessoa imóvel, envolta numa espécie de toga, pintada de dourado da cabeça aos pés
Os pais do Marquinhos estavam preocupados. Depois de dois lacônicos cartões-postais (Tudo bem e Je suis OK) mandados de Paris, não tinham mais notícia dele. Semanas, meses, e nenhuma notícia. Que fim levara o Marquinhos?
A mãe imaginava coisas. Marquinhos preso. Marquinhos acidentado. Marquinhos desmemoriado, vagando pelas ruas de Paris.
Bem que ela dissera, quando Marquinhos anunciara sua intenção de ir para Paris:
– Fazer o quê em Paris, meu filho?
– Me dedicar à arte. – E viver de quê?
– Eu me viro. O pai avisara:
– Não conte com dinheiro de casa.
Marquinhos repetira: – Eu me viro.
A preocupação da mãe era essa. Como o Marquinhos estaria se virando em Paris? E por que não mandava notícia?
A mãe tomou uma decisão. Iria a Paris procurar o filho. E foi. Só tinha uma pista para começar a busca. Num dos seus cartões-postais, Marquinhos incluíra um endereço de remetente. A mãe escrevera para o endereço várias vezes, sem resposta. Marquinhos provavelmente não estava mais lá. Mas talvez alguém se lembrasse dele no endereço. Talvez alguém tivesse uma ideia de onde encontrá-lo. Ou pelo menos onde procurá-lo.
Nada. A mãe pediu ajuda ao consulado brasileiro. Fizeram um levantamento nos hospitais da cidade. Nos abrigos de indigentes. Na polícia.
Nada. Nem sinal do Marquinhos.
Um dia a mãe estava atravessando uma ponte sobre o rio Sena, já sem esperança de encontrar o filho, já resignada a voltar para casa sem saber que fim levara o Marquinhos, quando ouviu um “pst”. Olhou em volta. Várias pessoas também atravessavam a ponte e algumas paravam para apreciar a uma estátua dourada colocada sobre um pedestal na calçada. Outras seguiam em frente. Nenhuma parecia ser a origem do “pst”. Mas a mãe ouviu outro “pst”. E viu que... Não podia ser. O “pst” vinha da estátua!
A estátua não era uma estátua. Era uma pessoa imóvel, envolta numa espécie de toga, se fingindo de estátua. Pintada de dourado da cabeça aos pés. Uma alegoria de alguma coisa. E a alegoria estava falando. Com o canto da boca, esforçando-se para que o movimento dos lábios não fosse percebido.
– Mamãe, sou eu. – Marquinhos?!
A estátua fez que “sim” movendo a cabeça alguns milímetros.
– Meu filho! O que eu vou dizer pro seu pai? Todo o dinheiro que ele gastou na sua educação pra você virar estátua?!
– Em Paris, mamãe. Em Paris – disse o Marquinhos, pelo canto da boca.
A mãe voltou para casa. Diria ao marido que o Marquinhos estava bem e se dedicando à arte. Não precisaria entrar em detalhes.
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