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quarta-feira, 3 de março de 2010
03 de março de 2010 | N° 16263
DIANA CORSO
Falha humana
Um grupo de pessoas se reuniu para fazer uma aposta na loteria e acertou. Quando foram conferir sua condição de premiados descobriram que a aposta não fora feita pela lotérica. A felicidade instantânea tornou-se pesadelo. Entre as explicações para esse triste desenlace, está a de que houve falha humana: a funcionária do estabelecimento não fez a aposta.
Dentre todas as alternativas, essa é a que me toca mais. Viver, para mim, é uma sucessão de sobressaltos, nos quais entre suores frios e pensamentos confusos, me recupero de sucessivos sustos nos quais penso ter feito algo errado ou prejudicial para alguém. Isso serve para coisas ridículas como um comentário infeliz, um aniversário esquecido, ou mesmo muito graves como um negócio catastrófico (até parece que lido com milhões!) ou o dano na saúde de alguém querido.
As inúmeras responsabilidades que assumimos são sempre maiores do que nossa atenção possa dar conta. Por mais que nos preocupemos, façamos listas, criemos condutas ou rotinas adequadas, conseguimos apenas redução de danos, o que não é pouco.
Quando acontece um acidente aéreo, se o motivo tiver sido uma falha humana, parece que poderia ter sido evitado, como se ela não tivesse sido também, a seu modo, acidental. Temos uma suspeita de que por trás de toda falha humana houve algum tipo de intencionalidade, ou pelo menos uma culpa: o piloto não descansou ou treinou o suficiente, talvez estivesse com problemas pessoais, deveria ter tirado uma licença ou era incompetente mesmo.
Explicações são muito melhor que nada. Se alguma motivação pessoal houvesse nos acidentes, no mínimo ela seria de cunho inconsciente, digamos que alguém precisasse destruir a própria vida, a carreira, exterminar seu futuro.
Mas é mais fácil admitir que esse tipo de lapso, fracasso ou acidente seja válido para uma entrevista de emprego malsucedida, uma gafe social, um esquecimento de compromisso, não para o extermínio de centenas de vidas.
Semana passada, pulei numa piscina sem antes olhar para o fundo. Ainda não entendi como foi que isso aconteceu, mas causei uma colisão que deixou meu marido, que estava mergulhando, com um olho roxo.
A pior parte dessas paranoias de fazer algo errado é quando se confirmam, sem falar nas brincadeiras dos amigos que me acusam de violência domestica. Das dificuldades em ser adulto, a impotência que resulta de entender que tudo o que conseguimos é errar menos é a pior delas. Tenho pânico da falha humana.
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