Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
terça-feira, 30 de março de 2010
30 de março de 2010 | N° 16290
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA
Vocação da esperança
“Perdeu o emprego. E o pior, o médico falou que precisa tratar a tal pontada no peito.”
Ouvi essa frase quando caminhava por um dos pontos mais turbulentos de Porto Alegre, uma compacta junção de pedintes, crianças jogadas à própria sorte, tipos sombrios com ares de reis do pedaço.
Havia atingido então uma das travessas do Centro. Foi quando escutei o seguinte comentário:
“Aí nos despejaram. O barraco não era grande coisa, mas esta noite a gente se abrigou adivinha onde? Debaixo de umas folhas de papelão.”
Eu chegava agora ao coração da cidade. Bem ali me chegou uma crua declaração:
“Em que lugar dorme o bebê? Dorme com os cachorros. Acho que os cachorros passam um calor pra ele, o pobre quase nem chora nas ventanias da madrugada.
Nada do que conto sucedeu em Luanda, Kampala, Concepción, Porto Príncipe. Ocorreu na capital que desfruta de um dos mais altos níveis de qualidade de vida do país.
Não faz muito li que, segundo pesquisa da ONU, o Brasil, apesar de ferido por disparidades sociais, ocupa o décimo lugar do planeta no quesito da felicidade coletiva. Sempre desconfiei de rankings. Não acredito nem nos que nos situam entre as sociedades mais atrasadas do universo nem nos que nos atribuem qualidades e méritos completamente invisíveis a olho nu.
No lugar em que trabalho tem um engraxate que dribla os seguranças, atropela os regulamentos burocráticos e vai conquistando nutrida clientela. Lustro meus sapatos com ele. Não é ainda um virtuose no mister, faltam-lhe tintas e tons, mas nunca uma alegria simples e contagiante.
É um emérito piadista, defende a gloriosa camiseta do Inter com bravura e garra, mesmo após eventuais tropeços não esconde que seu sonho é ser prefeito, desembargador, diplomata, pouco importando ocasionais colisões formais entre tão díspares ofícios.
“O doutor Getúlio não foi tudo isso?” – pergunta, como quem brande um argumento irrespondível.
Não conheço essas particularidades da biografia do doutor Getúlio. Mas não descreio dos planos do engraxate Agenor. Pois, como atesta a ONU, somos, apesar dos pesares, um dos 10 povos mais felizes da Terra.
Vai ver que nossa comum vocação é mesmo a da esperança.
Lindo dia para você. Aproveite a terça-feira
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