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sábado, 13 de março de 2010
13 de março de 2010 | N° 16273
PAULO SANT’ANA
O segredo
Nos 14 anos em que serviu ao Legislativo da Califórnia, o senador estadual republicano e conservador Roy Ashburn votou sempre contra as propostas de lei apresentadas para expandir direitos legais para homossexuais, desde o reconhecimento do casamento gay até a instituição de um feriado em homenagem ao ativista gay Harvey Milk.
Pois anteontem esse contrariador metódico da condição e atividade gays declarou-se publicamente homossexual. O senador Ashburn declarou-se em uma rádio que é gay há muito tempo, ele que é divorciado e pai de quatro filhas.
Ele fez a declaração quando foi parado em uma barreira por dirigir embriagado e na saída de uma boate gay: “Sou gay... estas são as palavras que foram tão difíceis para mim por tanto tempo”.
Prosseguiu o militante antigay: “Sempre pensei que isso não alteraria a forma como faço meu trabalho. Mas, depois de minhas ações na última semana, isso não é mais possível”.
Ele se vê agora debaixo de uma chuva de críticas por sua hipocrisia. Os grupos organizados de gays sempre deram nota zero às posições reacionárias de Ashburn sobre seus interesses, quando da avaliação que faziam das condutas parlamentares, na vigilância sobre a expansão dos direitos gays, dos quais o senador era forte opositor.
O diretor de um grupo gay revelou que espera que daqui por diante Ashburn passe a votar de outra forma: “Aguardamos que seu reconhecimento de si mesmo faça com que ele pare de negar às pessoas os direitos mais básicos”.
No entender deste colunista, o senador votava contra os gays para proteger-se de seu segredo: ele não era contra os gays, por ele próprio ser gay, ele era contra os gays assumidos, pois tinha inveja da coragem deles.
Um dos mais cruentos sentimentos é o de pessoas que se escondem atrás de um segredo.
Aquela revelação pertence-lhes exclusivamente e elas sofrem por não poder partilhar dela com a comunidade.
O segredo é um compromisso cruciante que as pessoas cultivam, baseado num medo que as consome diariamente.
Não há forma mais autossupliciante do que acobertar-se num segredo. Ele vai gradativamente tirando as forças de uma pessoa, que se desmilingui atrás das paredes da sua não identificação.
O senador californiano bem que poderia votar a favor da expansão dos direitos dos gays.
Mas era tão grande o receio de que soubessem que era gay, que achou que qualquer manifestação sua a favor da causa gay poderia denunciá-lo.
É que toda pessoa que guarda um segredo, qualquer segredo, investe em torno de si muros de proteção que a tornam um ator, um malabarista, um acróbata de mentiras e falsidades.
E o pior: a pessoa guardadora de um segredo sabe que a única forma de libertar-se daquela agonia é a revelação da verdade. Só que essa revelação é tão destruidora que só se a atinge pela morte de todos os sonhos e ilusões.
Não há solução para o segredo. Enquanto ele vigora, o seu mantenedor vira refém de um medo gigantesco.
E, se o segredo for revelado, isso significa o fim do seu portador.
Se for possível a qualquer um, que nunca se veja encarcerado por um segredo, pois é a forma mais dolorosa de degeneração de uma personalidade.
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