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quarta-feira, 31 de março de 2010
31 de março de 2010 | N° 16291
PAULO SANT’ANA
Suicídio coletivo
Confesso que fiquei favoravelmente surpreendido com a repercussão sobre o falecimento do jornalista Armando Nogueira.
Não pensei que a morte de um jornalista pudesse ainda emocionar um país inteiro. Mas emocionou. De todas as partes, chegavam mensagens de condolências, repletas de admiração pela obra do grande cronista.
O que mais sobressaía, no meu sentir, na atividade de Armando Nogueira era o seu texto, belo, limpo, firme, poético, lírico, filosófico.
Dava gosto lê-lo, sempre acudiam o seu texto as metáforas, as comparações com ironias suaves, as intercalações de imagens que ele conectava com rara maestria.
Quando morre um jornalista e é assim tão reconhecido, engrandece-se a profissão do jornalismo como algo inseparável do meio social, como imprescindível ao trânsito de ideias e ao convívio entre as pessoas.
Justas homenagens. E nem sequer a gente percebia que Armando Nogueira era um dos grandes da literatura esportiva que ainda restavam entre nós.
Justas homenagens.
Quando espocaram anteontem os dois atentados terroristas no metrô de Moscou, matando 38 pessoas, minha lembrança logo acorreu ao local do primeiro atentado, a estação de metrô Lubyanka, no centro da capital russa.
Por ali fiquei horas a ver, em 1973, o entra e sai de uma multidão incalculável nos porões do metrô, gente que não acabava mais e que ia surgindo ou desaparecendo nas ondas das escadas rolantes, moles humanas engolfadas para dentro e para fora dos trens, gente e mais gente procurando o seu destino, o fantástico metrô de Moscou.
Naquelas levas de pessoas que emergiam dos túneis ou desciam para eles, fixou-se o meu olhar aturdido, recém saído da adolescência provinciana e jogado perplexo para o epicentro do metabolismo de uma megalópole.
Lá embaixo, na plataforma dos trens, a imponência das estátuas de mármore do Báltico a celebrizar os heróis nacionais, uma higiene perfeita entre os caminhos e de segundos em segundos os trens chegando ou partindo, gente embarcando e desembarcando. Levei umas oito horas a observar aquele constante farfalhar da multidão no metrô petrificante de Moscou.
Agora fiquei a imaginar o estrago que fizeram as duas explosões terroristas no metrô de Moscou.
O que pode levar duas mulheres chechenas a se enrolarem em colchas de bombas e detonarem seus explosivos contra aquelas multidões indefesas de russos?
Qual é a lógica intrigante do terrorismo? Que desespero de impotência leva esses terroristas a sacrificarem suas próprias vidas e a vida dos outros para firmar um protesto político carregado de fanatismo?
Por trás disso, deve se esconder uma poderosa opressão.
É muito séria e profunda a campanha Crack, Nem Pensar, lançada anteontem em sua segunda etapa pela RBS.
Essa droga ameaça fazer ruir os alicerces da sociedade por ser uma droga barata e de livre acesso a todos.
Esta campanha da RBS é dirigida em favor da saúde, contra a morte e se constitui em um grito de alerta para o povo e as autoridades sobre o perigo do triunfo dessa droga sobre a organização social.
Algo precisa ser feito para fazer cessar o perigoso espalhamento do crack nas nossas comunidades.
E a RBS se lança à campanha para orientar o público e condenar a droga, devendo o alcance da medida sensibilizar os usuários, os familiares deles e até mesmo os traficantes para a conscientização de que estamos diante da ameaça de um suicídio coletivo.
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