terça-feira, 16 de março de 2010



16 de março de 2010 | N° 16276
MOACYR SCLIAR


O Brasil cresce

Não foi invenção da Xuxa: no passado, a denominação “baixinhos” era aplicada aos brasileiros em geral. Baixa estatura caracterizava nossa gente, e incluía variáveis como a cabeça chata dos nordestinos. Esta observação folclórica, contudo, tinha raízes na realidade.

No Brasil, a desnutrição era a regra, coisa que, aliás, embasou o hoje pouco mencionado programa Fome Zero. A curto prazo, a desnutrição manifestava-se pelo baixo peso das crianças; a longo prazo, pela baixa altura dos jovens e adultos.

Não mais. Demonstra-o um amplo estudo conduzido, aliás, para nosso orgulho, por pesquisadores das universidades federais do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.

Como parte do projeto Esporte Brasil foram pesquisados indicadores de estado nutricional e de desenvolvimento corporal em 41.654 alunos de escolas públicas e privadas em todo o Brasil. Compararam-se também esses dados com o de crianças e adolescentes norte-americanos. E aí veio a surpresa: os jovens brasileiros são mais altos que seus colegas dos Estados Unidos.

Esses indicadores mostram que a situação nutricional do país melhorou. E melhorou por várias razões. A produção de alimentos aumentou, não só no Brasil como em muitos outros países. Os brasileiros estão comendo mais, ainda que não necessariamente de forma mais racional: a obesidade está se tornando um problema frequente.

Ações específicas de combate à desnutrição estão dando bons resultados. Graças às campanhas de estímulo ao aleitamento materno, as crianças estão sendo amamentadas em maior proporção e por tempo mais longo. Medidas de saúde pública, como a prevenção de doenças infecciosas pela vacinação, contribuem para a melhora do estado nutricional.

Sim, o tipo físico do brasileiro está mudando. O modelo Pequeno Polegar é coisa do passado. O que pode ter várias consequências. Por exemplo: agora temos mais altura para o basquete, esporte do qual muitos brasileiros gostam; de Santa Maria, por exemplo, vieram excelentes jogadores, como o ministro Tarso Genro.

Mas a cesta estava muito mais distante dos brasileiros do que dos americanos, que classicamente eram imbatíveis na cancha de basquete. Isto agora vai mudar.

Por outro lado, porém, e como os brasileiros cada vez mais viajam de avião (mais um sinal de melhora), o suplício representado pela escassa distância entre as poltronas aumentará. Oportuna, portanto, a providência da Anac estabelecendo padrões de distância entre as poltronas dos aviões. Este será um critério de avaliação da qualidade dos voos oferecidos pelas companhias aéreas.

Podemos, pois, esperar viagens de avião mais confortáveis. Podemos sonhar com a conquista de um título mundial de basquete. E, mais importante, podemos nos alegrar com o fato de que, finalmente, estamos crescendo.

Festivais literários estão surgindo em todo o país. Na semana passada, estive em Pirenópolis, Goiás, cidade colonial que atrai visitantes pela bem conservada e pitoresca arquitetura, pelas cachoeiras e pelas celebrações folclóricas. O festival literário, muito bem organizado, contou com um grande público e teve excelente programação.

Crescemos não só em altura, crescemos em cultura também.

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