terça-feira, 9 de março de 2010



09 de março de 2010 | N° 16269
CLÁUDIO MORENO


Homens e mulheres – 2

4 – Logo que Roma foi fundada, as mulheres eram tão ousadas e destemidas quanto os homens: dentro de casa o seu poder era absoluto, e fora dela eram livres para expressar sua opinião sobre qualquer assunto.

No entanto, as leis de Numa Pompílio, o segundo rei, vieram ferir de morte essa igualdade; embora as casadas continuassem a merecer o respeito de todos, foram obrigadas a assumir uma vida mais reclusa e mais discreta, cheia de restrições odiosas – entre elas, a exigência de que se abstivessem para sempre do prazer do vinho e a proibição expressa de tomar a palavra em público sem a presença do marido.

Pode-se imaginar, por isso, com que espanto os antigos registros mencionavam o dia em que uma mulher desacompanhada compareceu ao Fórum para demandar uma causa que lhe dizia respeito.

Diante dessa atitude inusitada, o Senado se apressou em despachar um enviado ao oráculo de Apolo para perguntar se aquele exemplo assustador prenunciava algum desastre para o futuro da cidade...

5 – Luciano fala de um homem cuja mulher reapareceu vinte dias depois de ter morrido. Ele, que a amava profundamente, tinha providenciado um funeral esplêndido, cremando-a, segundo o ritual, juntamente com todas suas roupas e seus pertences; um dia, porém, estava quieto em seu canto, lendo o “Fédon” de Platão, quando ela surgiu de repente através de uma parede.

O filho, aterrorizado, saiu correndo, mas o marido, assim que a viu, abraçou-a, choroso, feliz por revê-la uma vez mais. Antes que conseguisse articular alguma palavra, no entanto, ela o avisou que teria de ir embora se ele emitisse qualquer som.

Ela estava ali para censurá-lo porque ele só tinha queimado, na pira do funeral, um dos pés de sua sandália dourada; o outro devia estar perdido em algum lugar atrás de uma das arcas da família.

Enquanto ela falava, porém, o cãozinho maltês do casal, atraído pela voz da dona, saiu de baixo da cama e se pôs a latir nervosamente, como era seu costume; o alarido a fez desaparecer, mas a sandália estava exatamente onde ela tinha descrito, e o marido apressou-se em queimá-la no dia seguinte, trazendo de volta a paz para todos. É uma história estranhamente familiar...

6 – Conta-se que o lendário califa Harun al-Rashid, o Justo, passeando um dia com Abu Nowas, um de seus poetas favoritos, pediu-lhe que explicasse melhor o provérbio “a emenda saiu pior que o poema”, que sempre lhe parecera abstrato demais. Abu Nowas sorriu, mas nada disse; contudo, assim que viu seu real interlocutor distraído, pespegou-lhe um indecente beliscão no traseiro.

O califa saltou, indignado: “Não me lembro, ó insensato, de ter-te permitido tais liberdades!”. Ao que Abu Nowas imediatamente respondeu: “Perdão, Príncipe dos Crentes! Não vi que era o senhor; pensei que fosse a rainha”. Então Harun al-Rashid entendeu.

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