domingo, 21 de março de 2010


ELIANE CANTANHÊDE

31 de março

BRASÍLIA - Ao que tudo indica, teremos um 31 de março da pesada.

Além de já naturalmente tensa, por marcar o golpe militar e abrir a brecha para "recados" de oficiais, a data vem chegando neste ano sob a tensão entre as Forças Armadas e a área de Direitos Humanos por causa do 3º PNDH e da criação da Comissão da Verdade para apurar torturas, desaparecimentos e mortes durante a ditadura.

No dia 31, Dilma Rousseff (chamada de "ex-guerrilheira" por setores fardados) sai do governo para a campanha, e o general de Exército Maynard Marques de Santa Rosa sai da ativa para a reserva.

Ele foi afastado do Departamento Geral de Pessoal do Exército, depois que a Folha publicou trechos de uma carta dele chamando a Comissão da Verdade de "comissão de calúnias", cheia de "fanáticos que, no passado recente, adotaram o terrorismo, o sequestro de inocentes e o assalto a bancos". Adivinha a quem se referia? Colocado de escanteio pelo ministro Nelson Jobim, ficou calado.

Passando para a reserva, vai abrir a boca? A resposta virá no dia 31, que neste ano será embrulhado no tema dos direitos humanos. Há reações tanto à nova versão do PNDH quanto ao desdém de Lula pelos dissidentes em Cuba. É como se ele escrevesse uma coisa aqui e fizesse outra lá, ao sabor das conveniências políticas e ideológicas.

Justiça seja feita: depois do cerco da Igreja, dos ruralistas, dos militares, do setor de comunicação e dos ministérios da Defesa e da Agricultura, o ministro de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, que não é nenhum xiita, vem lapidando cuidadosamente o 3º PNDH para que o diamante bruto, que visava o futuro, possa caber no presente.

Se Lula orientou Vannuchi para ouvir e rever, que os comandantes militares também controlem seus subordinados, como convém. Vale hoje o mesmo equilíbrio proposto na distensão: "Você segura os seus radicais que eu seguro os meus".

elianec@uol.com.br

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