sexta-feira, 26 de março de 2010



26 de março de 2010 | N° 16286
PAULO SANT’ANA


É duro ser jurado

Conversávamos eu, a Maria Isabel Hammes e o Moisés Mendes, meus colegas de Zero Hora, sobre o assassinato da menina Isabella, quando a Maria Isabel me disse:

– Tu não queres saber o que penso sobre este crime, não é?

Pensei comigo que ela inocentava os réus, mas disso tive certeza quando ela afirmou:

– Se eu fosse jurada, absolveria os dois.

É, tem gente que absolve, o mundo não é só feito dos que condenam neste caso dos Nardoni.

Maria Isabel foi mais veemente quando eu disse a ela que as perícias indicavam claramente ser o casal o autor do crime:

– Que perícias, nada. As perícias dizem só que “pode ser isso”, “pode ser aquilo”, não são taxativas. O que estão fazendo com esse pobre casal é uma injustiça.

Perguntada se leu nos jornais sobre o crime, Maria Isabel afirmou que leu tudo em Zero Hora sobre o crime.

Chega-se então à conclusão de que duas cabeças podem pensar diferente. Eu, que acompanho esse caso há dois anos, lendo os principais jornais brasileiros sobre o fato, acredito piamente que Alexandre e Anna Carolina são culpados, já minha colega de jornal Maria Isabel pensa o contrário.

Por isso é que é interessante que os jurados sejam sete. É um campo mais vasto para a discordância.

Entre dar minha opinião aqui no jornal de que os dois réus são culpados e pronunciar um voto no Conselho de Sentença sobre a culpabilidade de um réu, vai um abismo de distância.

Votar para que uma pessoa vá para a cadeia é uma responsabilidade muito grande: por isso é que existe o adágio de que, caso haja dúvida, o voto tem de ser favorável ao réu.

Diante disso, no julgamento de Alexandre e Anna Carolina, o dever que se impõe aos advogados de defesa é suscitar dúvidas no espírito dos jurados. Qualquer pessoa que tiver dúvida inocenta o réu.

Escolher alguém como culpado implica ter a absoluta certeza de que é culpado, não pode pairar qualquer dúvida sobre isso. Se pairar a mínima dúvida, tem de inocentar.

Da mesma forma, a tarefa transcendental da acusação nesse julgamento é incutir no espírito dos jurados que é indiscutível, irreparável a culpabilidade do casal de réus.

A acusação terá de convencer os jurados de que não havia ninguém mais naquele apartamento, que a menina já tinha sido agredida antes mesmo de entrar no apartamento, que houve uma esganadura intempestiva da menina por Anna Carolina e que para apagar os vestígios dessa agressão quase fatal Isabella foi atirada pela sacada.

E principalmente provar que, da garagem até o apartamento, a menina esteve sempre sob a guarda de Alexandre e Anna Carolina. Eles, portanto, eram os únicos responsáveis pela integridade dela.

Mas comentar aqui na coluna o caso, o que sinto ser meu dever, é uma coisa. Outra coisa é pronunciar um voto condenando.

Tanto quem condena quanto quem absolve corre o risco do remorso.

Eu não queria estar na pele dos sete jurados.

Nenhum comentário: