segunda-feira, 29 de março de 2010



29 de março de 2010 | N° 16289
PAULO SANT’ANA


Ecos do crime

Não me sai da cabeça o crime cometido por Alexandre e Anna Carolina sobre a menina Isabella.

O motivo central do crime, embora enevoado por sombras de dúvida, parece ter sido o ciúme. Ciúme da madrasta pela mãe da criança, ciúme do pai por não ter a guarda da filha. Parece meio intrincada essa teia, mas ela tem nexo.

Aí, sobreveio a irritação da madrasta contra qualquer coisa que a menina tenha dito ou feito, no caso, dentro da garagem. E a primeira agressão da madrasta sobre a menina.

A menina deve ter subido o elevador gritando, chorando, xingando. Isso pode ter levado a madrasta à exasperação.

Daí até a esganadura da menina dentro do apartamento, foi um passo.

O que me parece incompreensível é a atitude de Alexandre enquanto Anna Carolina esganava Isabella.

Por que ele não interveio e não defendeu a sua filha diante da fúria homicida da madrasta é algo que foge à compreensão de qualquer um.

Ele só pode ter-se associado ao ânimo agressivo da madrasta contra Isabella, permitindo a esganadura.

Ou será que não se associou e, quando viu, a menina já tinha sido asfixiada? E então resolveu aderir à madrasta e, para não complicá-la, resolveu atirar a menina pela janela.

Mas como é que um pai permitiu isso tudo contra sua filha, fruto de seu sangue? Como é que, em nome do amor que tinha por Anna Carolina, abandonou completamente Isabella à sanha homicida de Anna Carolina?

Esse emaranhado de sensações é muito obscuro no caso.

O ato da esganadura, segundo a perícia, demorou cerca de três minutos. Tempo suficiente para Alexandre intervir e não permitir que Anna Carolina levasse à frente seu propósito destruidor.

Onde estava Alexandre nesses três minutos? Não me entra na cabeça que um pai assista passivamente a sua filha sendo morta por sua mulher sem ir em seu socorro. Não me passa pela cabeça.

Será que havia irritação de Alexandre com Isabella que chegasse ao ponto de o pai se associar à mãe na intenção homicida?

Ou será que Alexandre encontrava-se no quarto com seu filho menor quando a madrasta esganava Isabella? E, chegado do quarto, deparou com a filha inanimada e discutiu com Anna Carolina, recriminando seu ato?

Porque é exatamente nesses instante que um vizinho ouviu espocar uma discussão veemente e em altos brados vinda do apartamento de Alexandre.

Será que Alexandre disse a Anna: “Olha o que fizeste com minha filha”. E discutiram.

E Alexandre pode ter pensado, naqueles segundos de aflição, que sua presença no apartamento naquele momento já o comprometia com o crime e resolveu, no desespero, tentar fazer desaparecer os vestígios da esganadura, atirando Isabella pela janela?

Como duas vidas de dois jovens, Alexandre e Anna Carolina, sem contar, é claro, a vida de Isabella, podem ser destruídas assim em instantes de irritação, irascibilidade, exasperação? Como podem explodir de repente no íntimo das pessoas impulsos de destruição e agressividade?

O quanto estão sofrendo neste instante Alexandre e Anna Carolina no fundo da cadeia. O quanto está sofrendo a mãe de Isabella, tudo por apenas um rompante de prepotência contra uma criança?

Esse crime martela ainda a minha cabeça.

E durante muito tempo não vai deixar de martelar.

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