terça-feira, 23 de março de 2010



23 de março de 2010 | N° 16283
PAULO SANT’ANA


Condenação irrecusável

Começou ontem em São Paulo o julgamento de Anna Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni pelo assassinato da menina Isabella Nardoni, com cinco anos de idade.

Foram escolhidos sete jurados, quatro mulheres e três homens.

Teoricamente, embora aquele homicídio comova a todos, há de sensibilizar ainda mais as mulheres, pela vocação maternal. Não é de todo pouco provável que quatro mulheres no júri ajudem a acusação.

É tão abundante o acervo probatório contra os dois réus, que a defesa prepara dois argumentos exóticos para refutá-lo: 1) uma terceira pessoa, no caso um ladrão que teria entrado na casa, esganou a menina e atirou-a pela janela; 2) foi um acidente doméstico.

É de rir. O ladrão que não apareceu e que não roubou nada! Não foi visto pelo casal!

E que motivo e interesse teria o ladrão para atirar a menina do sexto andar?

E que diabo de ladrão é esse que aproveitou três minutos, se tanto, entre o momento em que a menina deixou a garagem e subiu sozinha para o apartamento, para esganar a garota, ir até a cozinha buscar uma faca e uma tesoura, cortar a rede e atirar Isabella pela janela?

E que motivo e interesse teria esse ladrão para limpar o rosto ensanguentado da vítima com uma fralda. Depois, lavar o chão e os objetos?

Que motivo?

E poucos minutos iam decorrer em toda essa ação, até que os réus chegassem?

O segundo argumento da defesa é mais risível do que o primeiro: acidente doméstico.

Mas que equipamento foi esse que havia no apartamento que esganou a menina? E como pode ter sido um acidente doméstico, se a rede de proteção da sacada estava rasgada por uma tesoura e por uma faca, de acordo com a perícia?

Esses dois argumentos caem por terra quando se sabe também que a custódia da menina pertencia ao casal de réus. A presunção é de que eles sempre estiveram ao lado da menina, não se distanciaram dela por nenhum motivo alegado, como iriam permitir esse grande hiato no tempo que proporcionou o ataque de um ladrão ou a ocorrência de um acidente doméstico?

E a que atribuir a frieza de Alexandre Nardoni, que desceu do sexto andar, depois que a menina foi atirada, viu o corpo de Isabella no chão, não se aproximou para socorrê-la e ficou tratando de outros detalhes? E a perícia diz que a menina ainda estava viva quando Alexandre viu seu corpo pela primeira vez, estendido no chão.

São tantos os indícios contra os acusados, são tantas as provas contra os acusados, os dois se viram tão submetidos a circunstâncias radicalmente desfavoráveis para si, os flagrantes dos instantes posteriores ao evento criminoso e os indícios inequívocos da polícia técnica transbordam tanto dos autos contra Anna Carolina e Alexandre, que, mesmo que fossem inocentes, teriam de ser condenados, em face do manancial probatório arrecadado.

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