sábado, 20 de março de 2010



20 de março de 2010 | N° 16280
PAULO SANT’ANA


As Damas de Branco

Estranho: de uns dias para cá, está desfilando pelas ruas de Havana, Cuba, um grupo de mães e mulheres de presos políticos cubanos, protestando contra o regime de Fidel e Raúl

Castro e contra a prisão de seus parentes. Já foi para o quarto dia de protestos, apesar de que o grupo, denominado Damas de Branco, vem sendo fortemente repudiado nas ruas por partidários do governo. O grupo promete que vai continuar com as manifestações.

“Estamos pedindo a liberdade de nossos homens de maneira pacífica e vamos continuar até que eles sejam libertados ou que o regime cubano nos mate e derrame nosso sangue pelas ruas de Havana”, afirmou à imprensa internacional Bertha Soler, integrante do grupo.

“Queremos que o mundo inteiro veja que este é um governo ditador”, declarou Bertha, que é casada com Ángel Maya Acosta, preso desde 2003 e condenado a 20 anos de prisão por “atentar contra a independência e a integridade territorial do Estado”.

Ela diz que “conversei por telefone com meu marido e ele me disse que não era para ter medo, que devemos continuar protestando”.

Nas primeiras horas de anteontem, cerca de 30 integrantes das Damas de Branco reuniram-se para assistir a uma missa na Igreja de la Merced, em Havana Velha. De lá, saíram em marcha silenciosa, carregando flores e vestidas de branco, debaixo de insultos de 800 partidários de Fidel Castro, que as cercavam.

Policiais à paisana formaram um cordão de proteção em torno das mulheres para evitar o confronto entre os dois grupos, diferentemente do que acontecera dias atrás, quando as mulheres foram arrastadas pelos cabelos e obrigadas a entrar em ônibus do governo.

Desta vez, as forças de segurança não interferiram na manifestação.

Esses fatos, no entender deste colunista, mostram que está havendo uma quase imperceptível abertura em Cuba. A última imagem que se tinha de confronto entre a resistência ao regime e as forças de segurança deu-se durante o que se chamou de “primavera negra”, dia 18 de março de 2003, resultando na prisão e condenação pesada de 75 dissidentes.

Agora, não. A polícia permite as manifestações das Damas de Branco e coloca até mesmo agentes de segurança para proteger a passeata delas pelas ruas de Havana.

Essas manifestações, além disso, têm cobertura da imprensa internacional, que manda fotos sobre os comícios para todos os cantos do mundo.

No meu ver, há um leve aroma de abertura na ditadura cubana, talvez determinada pela sucessão no poder, desde que Raúl Castro substituiu seu irmão na cúpula governamental.

A Anistia Internacional está pedindo ao governo cubano que não persiga as Damas de Branco e trate de libertar aqueles que estão presos há anos e sentenciados em julgamentos “por acusações que, com frequência, não têm nenhum fundamento”.

Torça-se para que Cuba se democratize, que solte os seus presos de consciência, mancha escura dos regimes ditatoriais, e ao mesmo tempo se decrete um fim ao odioso bloqueio econômico de que é vítima há várias décadas a ilha de Fidel.

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