quinta-feira, 18 de março de 2010



18 de março de 2010 | N° 16278
PAULO SANT’ANA


E a vaga?

No caso da morte sem assistência médica da paciente Juracy Benedet, relatado ontem nesta coluna, chama a atenção que havia vaga em Passo Fundo para o internamento dela.

Mas ela estava em Gravataí, no seio da Região Metropolitana.

Ou seja, inverteu-se a lógica: o que mais acontece é o contrário, o paciente ser do Interior e não haver vaga lá, então ele pede que Porto Alegre o socorra com uma vaga.

Como pode não haver vaga em Porto Alegre, cidade que recebe por seus hospitais 50% dos recursos destinados a todo o Estado?

O senhor Joba de Oliveira Castro, telefone 3376-9447, me escreve, dizendo que não tem procuração do governo ou do Sistema Único de Saúde para defendê-los, mas que também não tolera injustiça. Pede que antes se faça uma investigação para depois acusar quem de direito for.

Diz também que o repórter que escreveu a este jornalista não referiu um fato importante: a Central de Leitos indicou e reservou dois leitos para a paciente em tela, um em Passo Fundo e outro num outro município.

E mais disse: que a família alegou que a paciente não podia fazer a viagem, pois corria risco de morrer durante a viagem (a família alega que possuía laudo médico desaconselhando que a paciente viajasse por uma distância maior que 150 quilômetros).

E que então o SUS colocou à disposição da paciente e da sua família uma ambulância, tipo UTI, para que fosse a doente transportada até Passo Fundo, onde havia leito característico para seu caso. E que a família não aceitou a viagem.

E a paciente veio a morrer sem assistência.

Escreveu-me também o médico Dênis Dib, regulador da Central de Leitos: “Como diariamente faço, li tua coluna esta manhã, antes de ir para a Central de Leitos de UTI, onde trabalho como médico regulador.

Ali, diariamente tentamos resolver casos como o da dona Juracy, que descreveste na tua coluna de hoje.

Nossa maior dificuldade são os casos de neurocirurgia e traumatologia, pois poucos hospitais têm qualificação para esses casos.

Isto gera uma grande angústia entre todos os colegas que trabalham 24 horas por dia, 365 dias por ano, nesta central, por sinal criada no governo Yeda... tão malfalado...

Temos autoridade para pagar transporte em UTI móvel, caso os municípios não disponham, temos autoridade para comprar leitos particulares, especialmente para gestantes, e os compramos diariamente, com o dinheiro público de nossos impostos.

Mas o caso de dona Juracy, que foi cadastrada na Central de Leitos do Estado no dia 4 de março, às15h58min, era muito grave e o colocamos em prioridade máxima. Foi oferecido à família da paciente leito em UTI com neurocirurgião, em Passo Fundo, no dia 5 de março, um dia depois do AVC.

A doutora Fátima, do hospital de Gravataí, onde a paciente se encontrava internada, aceitou o leito, mas a família da paciente disse que só aceitaria transferência para hospital mais próximo.

Com essa postura, o caso passou para a Central de Leitos, inclusive com ordem judicial para internação. Infelizmente, não foi conseguida vaga em hospital mais próximo. Pergunta-se: se tivesse a paciente ido para Passo Fundo, em hospital de alta complexidade, o desfecho não poderia ter sido outro? Saúde e paz!” (estava assinado).

As explicações são satisfatórias. Compreende-se inclusive o drama que vivem os operadores do SUS e da Central de Leitos.

Mas a questão central e fundamental permanece inalterada: como é que Porto Alegre, com seus hospitais de excelência, não tem vaga para neurocirurgia? Não tem explicação.

Até quando vão faltar vagas para doentes à morte?

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