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terça-feira, 9 de março de 2010
09 de março de 2010 | N° 16269
MOACYR SCLIAR
Vivendo o terremoto
Muitas pessoas passam por tragédias naturais; muitas pessoas descrevem os horrores então vividos e dos quais nos tornamos então participantes. Mas, quando a descrição é feita por uma grande escritora, alguém que costuma usar as palavras para expressar sentimentos e emoções, é diferente.
Foi o que constatei na última quinta-feira quando, na ABL, ouvi Ana Maria Machado contar, numa conversa informal, sua sombria experiência em Santiago do Chile, quando do terremoto que lá aconteceu.
Ana e vários outros escritores, muitos deles brasileiros, estavam na capital chilena participando de um encontro internacional sobre literatura infanto-juvenil. Era a sua última noite lá; voltaria para o Brasil na manhã seguinte, mas de madrugada acordou, no hotel em que estava hospedada, com tudo sacudindo a seu redor: experiência aterrorizante.
O pior era o ruído surdo, ameaçador, o ruído que vinha das entranhas da terra: uma ameaça terrível, a ameaça da morte iminente. Tudo o que eu queria, disse Ana, era que aquilo terminasse logo; se era para morrer, então morrer sem sofrimento, sem a agonia da morte lenta sob as ruínas. Mas o hotel era uma construção sólida, que resistiu.
Ana saiu do quarto, encontrou outras pessoas que participavam no congresso e todos desceram. Chamou-lhe a atenção as diferentes maneiras pelas quais as pessoas reagiam à catástrofe. Uma das escritoras, apavorada, chegou ao saguão apenas enrolada num lençol; mas outra escritora só saiu de seu aposento depois de devidamente vestida e maquiada.
Por outro lado, os escritores que vinham de países onde já ocorreram terremotos – Peru, México – mostravam-se menos inquietos e mais seguros do que fazer: um mexicano alertou o grupo para que não ficassem perto do prédio: outros tremores se seguiriam, e um desabamento não era impossível.
Ana conta que, menos de uma hora depois do tremor, os saques e assaltos começaram: o modelo de arrastão que o Rio de Janeiro, onde ela mora, conhece bem. E os assaltantes sabiam o que fazer: sabiam que lojas e supermercados estavam desprotegidos e sabiam também o que roubar das pessoas: obviamente os volumes que estas carregavam só podiam conter objetos de valor.
Tudo isso resultou num trauma que se prolongou pelos dias seguintes. Ana conta que acordava no meio da noite sobressaltada, com a sensação de que o terremoto estava de novo acontecendo. No que ela não é exceção.
Cerca de 15% das pessoas que vivem situações ameaçadoras apresentam a síndrome do estresse pós-traumático, em que o evento é vivido novamente, seja através de pensamentos obsessivos, de insônia, de pesadelos. No caso do terremoto, isto tem raízes na realidade porque, como se viu no Chile, os tremores se repetem, ainda que com menor intensidade.
A pergunta é se isto não podia ser evitado ou ao menos minimizado, não só através de normas sobre construção de casas e prédios como também por aquilo que poderíamos chamar de educação para a catástrofe, um tema a ser abordado em escolas.
O que fazer em caso de enchente, de desabamentos, de incêndios, de graves acidentes? Como devem proceder as pessoas, o que devem evitar? Trata-se de um complemento ao clássico treinamento de primeiros socorros, e igualmente útil. Acho que a Ana Maria Machado assinaria em baixo. E o autógrafo dela, mostram-no as filas de leitores, é importante.
Ao optar por um sombrio retrato da guerra do Iraque (Guerra ao Terror) em vez da fantasia tecnológica representada por Avatar, Hollywood mostrou que, na era Obama, as coisas estão mudando nos Estados Unidos. Bom sinal.
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