sábado, 13 de março de 2010



14 de março de 2010 | N° 16274
DAVID COIMBRA


Você já trabalhou de babô?

Havia quatro mulheres à roda de uma mesa no bar onde estávamos, noite dessas. Todas elas vistosas, todas elas morenas, quatro matizes diferentes de pele, um ton sur ton que avançava da cútis de leite até o chocolate luzidio. Bebiam cerveja, as quatro.

Nenhuma bebericava clericot, nenhuma empunhava um drinque com sombrinha. Guaraná light, nem pensar. Cerveja. Pegavam na garganta da garrafa, enchiam os copos até a espuma lamber a borda, engoliam golões, estalavam os lábios, riam à larga.

Tempos atrás, mulheres não bebiam cerveja desse jeito. Não um grupo só com mulheres, ao menos. A maioria das mulheres nem gostava muito de cerveja, era mais de daiquiri, quando muito um Martini.

Uma dessas morenas, uma alta, magra, parecendo uma Bündchen, essa morena tinha um pé delgado. Pé elegante, sabe? Fino mesmo, de propaganda de sandália. Ela usava sandália, aliás, o que não é incomum, os pés das mulheres estão sempre expostos, ainda que esteja frio de bater molares. Por algum motivo, elas gostam de mostrar os pés. É legal.

Mas o pé daquela morena. Havia estrelinhas impressas ali. Estrelas delicadas, do tamanho de saúvas, como deviam ser quaisquer estrelas de decoração de pés de mulher. Bem. Em certo momento, a morena curvou-se na cadeira, abaixou o braço e levou a mão até a parte de trás do pé.

E começou a escarafunchar o calcanhar.

Volta e meia, parava. Erguia o braço. Bebia mais cerveja. Ria. E tornava a escarvar o calcanhar. Não parou até tirar algo de lá, uma fatia de pele morta, talvez, não sei, sei que era um pé de aparência macia e imaculada, um pé à vista do mundo, o qual ela manipulava em público, sem pejo, sem hesitação, com plena segurança.

Quer dizer: era uma mulher completamente à vontade naquele bar. Sentia-se na sala de casa, ela e sua cerveja e suas amigas risonhas e trigueiras.

E seu pé. Em um passado até recente, as mulheres não demonstravam tamanha naturalidade diante de uma garrafa de cerveja. Era um comportamento considerado masculino. Meiguinhas, como aquelas morenas, no máximo sorviam kir royal e cruzavam as pernas e iam retocar o ruge no toalete.

Mas hoje as mulheres se empenham em provar que podem fazer tudo o que um homem faz. Dirigem Scanias. Usam gravata. Presidem clubes de futebol.

Agora me diga: alguma vez você já viu um pedicuro? Um manicuro? Você já viu um recepcionisto? Já viu um doméstico? Telefonisto eu conheço um só, trabalha aqui na Zero Hora e é irritante quando ele vem de camisa regata.

Professor de escolinha de bebê também parece que existe um único, tão solitário que mereceu matéria de jornal. Mas e babô, o masculino de babá, há algum por aí? Rei de bateria. Em qual Carnaval fez sucesso algum rei de bateria? Ou príncipe? Ou conde, que seja?

Aí é que está. Nós homens não ficamos tentando nos imiscuir no mundo das mulheres. Alguém dirá que isso é machismo. Mas, e se fosse feminismo, seria bom?

Mesmo assim, garanto que não é machismo. Não tenho nada contra a atuação das mulheres em qualquer campo da atividade humana. As redações, inclusive, ficaram muito mais floridas com mulheres adejando por entre as mesas, escrevendo reportagens, editando páginas, dando ordens de dedo em riste, comentando sobre o BBB.

Que sejam protagonistas em todas as áreas, pois.

Menos em uma.

Menos no futebol.

Detesto assistir futebol feminino. Já assisti à final do Pan no Maracanã, já assisti à final da Olimpíada da China, com Marta em campo e tudo mais. Foi uma maçada, como diria Machado de Assis. Quase dormi apoiado na Bic.

Querem jogar bola? Joguem. Mas não me peçam para estar na arquibancada.

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