quinta-feira, 11 de março de 2010



11 de março de 2010 | N° 16271
PAULO SANT’ANA


O ombro amigo

De que matéria e substância é feito um amigo? Como pode um estranho equiparar-se a nosso pai e a nossa mãe, até mesmo sobrepujá-los em lealdade e dedicação?

Que amálgama une um amigo a outro? Em que mistura de elementos se alicerça afinal uma amizade?

Não há dúvida de que a amizade suplanta o amor por não correr o risco de ser efêmera.

É essa perenidade que diferencia a amizade do amor e a faz mais nobre que o amor.

Quando cessarem todos os recursos, quando ficar de prontidão a voz dos necrológios para gritar que você morreu, ainda restará na última cidadela de proteção um amigo.

O amigo é o mais sólido, o mais imarcescível abrigo contra a solidão devastadora.

O grande óbice ao desespero é um amigo, o único obstáculo ao suicídio é um amigo.

Por que ele é amigo, não se saberia dizer. É amigo como um cão fiel, sem motivo, trata-se de uma simples escolha.

Há pessoas que nasceram para ser amigos. É da sua natureza ajudar, amparar, estar ao lado, construir, velar, mourejar em pura amizade.

O amor também se diferencia da amizade porque esta é absolutamente desinteressada.

O amigo ajuda o outro amigo porque esta é a sua missão, a de dar sentido à vida do outro.

No amor, um dos amantes ama o outro porque a felicidade do outro fá-lo lucrar.

Na amizade, um amigo ajuda o outro sem lucrar nada, apenas para ajudar, amparar, diligenciar.

Mil vezes, se eu tiver de escolher, preferiria ter um grande amigo a um grande amor.

E, se eu tiver um grande amor, ele sobreviverá aos tempos e se tornará perpétuo só no caso de que ele se transforme em uma grande amizade.

O amor é temporal, a amizade é eterna.

Se me faltarem todas as forças, se todos os elementos que me mantêm erguido soçobrarem, ainda assim permaneço em vida e prossegue acesa no meu coração a chama da esperança, se um amigo existir.

A vida só pode cessar quando faltar um amigo. Um amigo é infinitamente mais útil que a riqueza, o luxo, a fartura e a ostentação.

O maior tesouro da vida é um amigo.

A maior e mais importante desgraça é a falta de um amigo.

Cultive um amigo, se é que se possa cultivá-lo, se é que essa atração que o move não seja simplesmente natural e espontânea.

Agradeça ao seu amigo, embora ele exista independentemente de qualquer agradecimento ou homenagem. Quando se dedica, não está em busca de gratidão, ele só é amigo porque é da sua vocação telúrica a amizade.

Procure saber se você tem, no seu círculo de amizades, um amigo.

Se o tiver, só assim a vida terá sentido.

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