sexta-feira, 6 de novembro de 2009


FERNANDO GABEIRA

Uma loira

RIO DE JANEIRO - Dizem que o século 20 acabou com a queda do Muro de Berlim. De um ponto de vista intelectual, o século 20 está morrendo também com Claude Lévi-Strauss. Dificilmente os jornais do século que virá darão tanto destaque à morte de um pensador.

Talvez jornais e pensadores não venham a ser abundantes no futuro.
Ele morreu num momento em que alunos da Uniban se revoltaram por causa de uma jovem loira de minissaia e quase botaram o prédio abaixo.

No passado, talvez os antropólogos se interessassem por esse curso de turismo e pelo resto da faculdade. Psicanalistas como Erich Fromm e Wilhelm Reich e a Escola de Frankfurt talvez pudessem achar algum estímulo nessa manifestação raivosa.

Um dos alunos em fúria afirmou que não queria ter essa mancha no seu diploma. Foi uma das frases mais interessantes. A que tipo de mancha estava se referindo? Ao ver seu diploma do curso de turismo da Uniban todos diriam: esta faculdade é aquela em que havia uma loira de pernas de fora.

No passado, adolescentes manchavam as calças. Supor que, ao longo dos anos, todos continuarão pensando nas pernas da moça, que a simples menção do nome Uniban trará a figura, talvez o próprio perfume da moça, é algo muito forte.

O medo que a imagem de uma loira com as pernas de fora os persiga ao longo de toda a carreira me faz lembrar aquela imagem de uma loira perseguindo os sonhos de um puritano no filme de Fellini. Ela tinha enormes seios e cantava: tome mais leite, o leite faz bem.

De uma certa forma, a psicanálise também perdeu terreno. Quem sabe a neurociência não tenha alguma fórmula para evitar o motim? Ou Ruy Barbosa com sua "Oração aos Moços"? Na Uniban, os tempos pedem colagens, não saias audaciosas.

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