05
de junho de 2013 | N° 17453
PAULO
SANT’ANA
Não é bem assim
Há um
barbeiro no Centro cujo apelido é “Não é bem assim”.
Tudo
o que você diz numa conversa, ele observa sempre: “Não é bem assim”.
Fui
conferir se dizia sempre esta mesma expressão e, como me falaram que tinha seis
filhos, perguntei: “O senhor tem seis filhos?”. Ele respondeu: “Não é bem assim”.
“Como
não é bem assim?”, perguntei. E ele: “É que tenho mais dois filhos fora do
casamento”.
Continuei
a conversa e provoquei-o: “Disseram-me que o senhor é desonesto”. E ele: “Não é
bem assim”. “Como?”, perguntei. E ele: “Na verdade, eu faço algumas trapaças,
mas todas sem importância, não chegam a causar prejuízo a ninguém”.
Então
resolvi encurralá-lo, apontei para seus sapatos pretos e disse a ele: “Os seus
sapatos são pretos”. Ele não teve dúvida em responder: “Não é bem assim”. Então,
eu expliquei que era evidente a cor preta nos seus sapatos. E ele: “Para o
senhor e para mim, é claro que meus sapatos são pretos, mas tenho clientes que
são daltônicos e veem marrom nos meus sapatos”.
“Não
é bem assim” é uma frase pronunciada pelo barbeiro citado, fui descobrir depois,
com a finalidade de espichar a conversa. Na verdade, a frase encomprida a
conversa, ela nunca é conclusiva.
É a
mesma coisa que você dizer a uma pessoa que o dia está bonito e ela responder: “Assim,
assim” . Pronto, está estabelecida a discussão.
Então,
também descobri mais tarde que existe uma expressão que tem significado
absolutamente igual a “não é bem assim”. É “em termos”.
Você
fala a uma pessoa que há uma praga de políticos desonestos e ela responde: “Em
termos”.
Ora,
“em termos” não quer dizer sim nem não, não quer dizer absolutamente nada.
“Em
termos” é a expressão mais em cima do muro que eu conheço.
Há uma
terceira expressão equivalente a essas duas: “Mais ou menos”. Não há nada mais
indefinido que dizer-se “mais ou menos”.
Ontem,
uma pessoa me disse que estava “mais ou menos apaixonada”. Confesso que não
entendi. Ou melhor, entendi mais ou menos: ela quis dizer que estava gostando
de alguém mas não achava nada daquela relação definitivo, podia deixar de
gostar a qualquer momento.
Mudando
de assunto, ontem compareci a um coquetel e me aproximei de uma roda de seis
pessoas.
Resolvi
testar a paciência das seis pessoas para com os fumantes. Entrei na conversa e
acendi um cigarro, fumando-o.
Quatro
das seis pessoas se retiraram da roda, dois sob protesto.
E,
dos outros dois que restaram, cada um me pediu um cigarro para também fumar.
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