05
de março de 2014 | N° 17723
PAULO
SANT’ANA
O cachimbo da paz
Quando
eu era guri, colecionava carteiras de cigarros vazias. Tinha um montão delas em
minhas gavetas.
As
marcas eram Elmo, liso ou com ponteira, Liberty, cilíndricos ou ovais, Tufuma,
Belmont, Continental, Minister, um que não recordo o nome mas quando se passava
a língua no seu papel tinha o gosto de chocolate, Astória etc.
Eu
colecionava os rótulos dos cigarros mas nem me passava pela cabeça que um dia,
muito mais tarde, iria fumar.
Nunca
fumei cigarro de palha ou mesmo aquele de nome Colomy, o usuário é que fazia o
cigarro com fumo que colocava manualmente no papel.
Charuto?
Não consigo fumar, é muito forte e dizem que não se deve tragá-lo. Não vejo
como possa aproveitá-lo sem tragar.
Também
nunca fumei cachimbo e nunca fumei maconha. Esta última nunca me atraiu, embora
eu tivesse vivido num meio, até mesmo jornalístico, em que se fumava muita
marijuana.
Cocaína?
Nem pensar. Na verdade, sempre fui muito careta, sempre tive medo de vir a me
viciar em maconha e ter de carregar esse vício por mil riscos de ser um dia
surpreendido por algum agente de autoridade.
Interessante
é que o uso do cigarro, do cachimbo e da maconha implicam fumaça. Deve ser
herança cultural dos índios, estes sempre foram ligados em fumaça, até mesmo
para se comunicarem de uma aldeia a outra por sinais de fumaça.
Os índios
eram tão ligados em ingerir fumaça, que, até mesmo quando celebravam com os
inimigos a reconciliação ou o armistício, sentavam no centro da aldeia em torno
de uma roda onde fumavam com os ex-inimigos o “cachimbo da paz”.
Pois
eu acho que sei aonde quero chegar falando em fumos: no meu vício, que dura já cerca
de 50 anos, o cigarro.
Nunca
consegui deixar de fumar, embora já tivesse tentado tantas vezes.
Já por
isso parei de fumar um ou dois dias. No terceiro dia, cedia à tentação e
voltava ao vício.
É possível
que o câncer que tive na rinofaringe e que me foi extirpado pelo cirurgião Nédio
Steffen tenha sido originado pelo tabagismo, é quase certo que foi.
Fumo
três maços de cigarros por dia, quatro quando estou jogando turfe, baralho ou
roleta.
Mas
devo fumar um pouco menos do que disse acima com esse arsenal de medidas
antitabagistas que a sociedade ergue atualmente contra o cigarro. Não se pode
fumar na Redação do jornal onde trabalho, não se pode fumar em nenhum recinto
fechado e também em muitos recintos abertos. Evidentemente o cerco pedagógico e
policial que sofro com esse meu vício acaba por me coagir a fumar menos. Não
simpatizo com esse cerco mas sou obrigado a reconhecer que ele me é favorável,
ajuda de certa forma a prevenir o meu outro câncer.
E de
lambujem me faz gastar menos com os cigarros.
Eu,
que nesses 50 anos de tabagismo já gastei em cigarros, fiz a conta esses dias,
uma fortuna que daria para comprar hoje um palacete.
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